A fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa, ladeado por António Costa, Ferro Rodrigues, Fernando Medina e Fernando Gomes, é uma das mais absurdas e patéticas da história recente da nossa democracia. Foi tudo tão ridículo que nem se sabe por onde começar.

O Presidente da República, o PM, o Presidente da Assembleia da República e o Presidente da Câmara de Lisboa todos juntos para anunciarem que a fase final de um torneio de futebol decorre em Lisboa. Enlouqueceram de vez? Perderam qualquer noção de sentido de Estado que ainda lhes restava? Ou são apenas, e simplesmente, provincianos?

Um ponto é certo: são todos uns grandes populistas. Os nossos líderes políticos olham para os portugueses como uns fanáticos de futebol e, por isso, acreditam que o desporto rei lhes dá popularidade. Desde que acordam até que se deitam, só pensam numa coisa: o que vamos fazer para ganhar popularidade. O futebol é uma aposta fácil. Sei que a maioria dos portuguese é fanática por futebol, infelizmente também o sou, mas acredito (ou desejo) que saibam isolar esse fanatismo de questões mais importantes.

O Covid-19 obrigou os portuguese a ficarem em casa durante semanas sem fim, a perderem recursos e, nos casos mais dramáticos, empregos, mas os nossos líderes andam preocupados com um torneio de futebol em Agosto em Lisboa. A recessão será terrível, o vírus não está controlado, a maioria dos portugueses não sabe como será o seu futuro, mas os nossos líderes festejam a realização da fase final da Champions como se fosse um feito nacional.

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Ainda pior, e fieis aos seus hábitos, querem fazer dos portugueses uns tontos. O PM dedicou a “vitória das Champions” em Lisboa aos “profissionais de saúde.” António Costa é um político profissional, com muita experiência, com uma grande habilidade, mas por vezes faz afirmações inexplicáveis. Parece que bloqueia mentalmente. Marcelo Rebelo de Sousa, com aquele ar de quem percebe o que mais nenhum português percebeu, e com a necessidade de explicar o óbvio aos súbditos, diz que a Champions é boa para o turismo em Portugal.

Segundo a sua explicação brilhante, sete jogos de futebol, sem público, vão promover Lisboa e Portugal. Ou seja, um país que recebeu mais de 20 milhões de turistas em 2019, precisa da Champions para promover os seus encantos. E todos os turistas que gostariam de visitar o nosso país, mas não o fazem por causa do Covid-19, vão a correr comprar viagens para Portugal quando virem que há jogos de futebol em Lisboa sem público nos estádios. Já estou a imaginar o Peter Taylor dizer à Emma Taylor, depois de ver um jogo do Manchester City no Estádio da Luz vazio, “let’s spend a week in Lisbon, it’s safe down there.” O nosso Presidente também acha que os turistas são tontos.

Desconfio que as nossas autoridades se vão arrepender de terem os jogos da Champions em Lisboa. As imagens dos adeptos do Nápoles a celebrar a vitória na Taça de Itália mostram os riscos que Lisboa vai enfrentar. Mesmo com os estádios fechados, dezenas de milhares de adeptos podem acompanhar as suas equipas. Não vão certamente assistir aos jogos no isolamento dos seus quartos de hotel. Vão ocupar, em pequenos grupos de milhares, as esplanadas e os restaurantes de Lisboa. Para cantar e apoiar as suas equipas, não vão usar máscaras. O que farão as autoridades nacionais? Receio que vamos assistir a confrontos entre adeptos e entre eles e a polícia.

Há, obviamente, uma alternativa: proibir a entrada de adeptos em Portugal durante a Champions. Seria a medida mais segura. Duvido é que o governo tenha coragem de a tomar. Para receber sete jogos de futebol da Champions, em jogos sem público, Lisboa vai enfrentar riscos muito maiores do que quaisquer benefícios potenciais. No actual contexto de crise pandémica e de uma crise económica profunda, a prudência aconselharia a não correr riscos desnecessários, mesmo que não sejam elevados. Seria assim que actuariam responsáveis políticos sérios. Mas os nossos líderes colocam a popularidade fácil à frente dos interesses nacionais.