Recordo-me de na adolescência, julgo que na disciplina denominada de Ciências Naturais, estudar as relações bióticas. Estas relações ecológicas evidenciam-se pela sua caracterização interespecífica ou intraespecífica, desenvolvendo-se assim, entre seres de espécies diferentes ou da mesma espécie, respetivamente.
O parasitismo é um exemplo do tipo de relações interespecífica, traduzindo-se na permanente dependência que o parasita – independentemente de ser endoparasita (quando vive no interior do corpo do hospedeiro) ou ectoparasita (quando vive no exterior) – possui face ao seu hospedeiro.
Não obstante a ainda tenra idade, já há algum tempo me encontro a padecer de parasitismo, no qual assumo o papel do prejudicado hospedeiro, permanecendo e alimentando-se do meu ser um personificado bicho.
Dificilmente me consigo abster da presença deste parasita que creio ser despoletado pela atividade política nacional e teima em evidenciar-se em particulares ocasiões, sem qualquer consideração quanto à cor da matéria que me vem sugando.
É reativo sempre que se aproxima a hipocrisia e nos mostramos desconcentrados daquilo que realmente importa, quando é tudo feito em perspetiva da obtenção do voto e da popularidade, ignorando e retirando todas as características pessoais às personalidades políticas.
Este aproveitamento das simples formas de fanatismo abrange-se da direita à esquerda, praticamente sem exceção. Por exemplo: quando, no decorrer de uma entrevista ainda na qualidade de candidato, ouço o atual Primeiro–Ministro, outrora assumido portista, afirmar que o seu clube é a Seleção Nacional, sinto o parasita.
O mesmo sucede em vésperas de eleições europeias, na ocasião que a candidata do PS, dias após afirmar em entrevista o desconhecimento do trabalho de Taylor Swift, partilha nas suas redes uma foto alusiva à artista.
Também não é de agora que sinto uma mordida interior sempre que o Presidente da República, no escudo do politicamente correto, ecoa ser adepto do SC Braga, ou quando, numa propaganda que faz inveja a qualquer comerciante de mobiliário, Moedas surge com as camas que, em conformidade com o que faz transparecer, criou na capital.
Na minha inquietude venho-me abatendo por diversas razões: (1) por figuras de proa nacional, titulares dos cargos de superior exigência e responsabilidade, perderem o tempo e atenção que tanta falta fazem noutros setores com estas teatradas; (2) por ter consciência da existência de quem se deixa ludibriar por estes mecanismos que transparecem uma completa ausência de ética e personalidade.
A normalização destes comportamentos por parte dos praticantes e dos recetores leva-me a acreditar que, não obstante celebrarmos 50 anos de uma nação democrata e livre, vivemos momentos em que nos encontramos mentalmente aprisionados e sujeitos ao julgamento social.
Presenciamos uma altura em que se verifica uma total inexistência de espontaneidade que, pela sua tipificação imediata, se associa à veracidade. Mais irónico e inacreditável se verifica quando se mostram particularmente cuidadosos na transmissão de uma imagem clean, revestida de neutralidade e, em contraste, são confrontados com uma rotina praticamente quotidiana de surgimento de casos de corrupção em todas as ramificações da política nacional.
A perceção das hodiernas circunstâncias vai alimentando o parasita que se aproveita de mim e retirando-me o folgo na luta por uma sociedade mais tolerante, politicamente focada nas importantes questões do país e longe das artimanhas que nos vão mantendo distraído.
Por ora ainda detenho força bastante para afirmar que sou do Sporting, de esquerda e católico, estando os últimos dois suscetíveis de poderem ser alterados em consequência do desenvolvimento do meu pensamento e nunca na perspetiva de – por intermédio do referido – beneficiar de vantagem eleitoral.
A final, aconselho a não se deixarem vencer pelo parasita, a serem livres, autênticos e a não acreditarem em políticos que nem com eles próprios são honestos.