Há cerca de um ano, no dia 16 de abril, o governo PSD/CDS apresentou o seu Programa de Estabilidade e Crescimento para o período de 2015-2019, como mandam as regras europeias.
Menos de uma semana depois, António Costa apresentou a contra-proposta socialista, a “Agenda para a Década”, que seria uma “alternativa de confiança” que marcaria uma viragem na política económica e orçamental.
O PS garantia que a austeridade ia acabar e isso estava materializado numa proposta de redução do défice orçamental a um ritmo muito mais lento do que previa o PSD/CDS. Com essas mudanças de políticas e o aumento do rendimento disponível dos portugueses, garantia o PS, o crescimento económico seria maior e mais robusto, num ciclo virtuoso que se auto-alimentaria.
De então para cá, o PS deixou de ser oposição e passou a ser governo. E, nessa sua nova condição, acaba de atualizar a sua visão para a década no PEC 2016. Vamos ver como comparam os números, começando pela evolução do défice orçamental?
Em relação ao crescimento económico, os números são estes:
Pois é, os óculos da realidade virtual avariam sempre que um líder da oposição passa a primeiro-ministro. Não só a austeridade não acabou, como se está a perceber e vai ser evidente nos próximos meses, como o crescimento vai ser bem menor. Se a isto descontarmos o clássico desvio otimista que os governos colocam sempre nas previsões – como o Observador aqui mostra – temos o projeto económico e orçamental que foi levado a votos, que era suposto ser uma mudança de ciclo, reduzido a cinzas em apenas meio ano. O que sobra? As medidas avulsas, genericamente simpáticas para fatias importantes da população que recebem do Orçamento do Estado, porque nunca se sabe quando vamos para eleições.
Paulo Ferreira é jornalista e colunista do Observador
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