São vários os grupos profissionais que têm demonstrado descontentamento com as suas condições de trabalho. Nas ruas, ecoam reivindicações e fazem-se greves. Transportes, educação e saúde… reivindicam mais salários e melhores condições laborais. Contudo, há um setor que está em silêncio apesar, de precisar urgentemente, de melhorar as suas condições laborais.
Falamos do setor social.
Um setor pouco visível pela sociedade, mas fulcral para a mesma. É um dos tentáculos do Estado que mais chega às pessoas. É o setor que está lá sempre, quer vivamos anos de glória, quer vivamos anos de crise. É o setor que cuida. Cuidar vais ser um dos últimos campos que a IA irá conseguir substituir.
As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) (partes constituintes do setor da Economia Social) são instituições que fornecem vários serviços humanos: desde a saúde; a educação; aos serviços sociais e de desenvolvimento comunitário; ajudando crianças, jovens e famílias; apoiando a integração social e comunitária; sendo um pilar essencial no apoio a idosos e a pessoas incapacitadas. As IPSS apresentam uma elevada importância na medida em que providenciam bens e serviços de apoio social àqueles que mais necessitam e que não podem pagar por eles um preço que cubra o respetivo custo. Existiam em 2010 mais de 5.000 IPSS (representando 50,1% do VAB e 63,4% do emprego remunerado da Economia Social) e em 2013 este número aumentou para mais de 5.500 organizações (totalizavam 43% do VAB e 60,4% do emprego remunerado da Economia Social).
Ora, todo este panorama de crescimento institucional tem se traduzido numa demanda de necessidades crescentes sem uma injeção de recursos, quer Humanos, quer financeiro proporcional. Somos um país envelhecido e com um Estado Social pouco preparado e pouco ágil para os desafios atuais.
Falamos de um setor que tem tabelas salariais muito pouco dignas da importância deste seu trabalho. Todos nós o usamos, seja numa vaga para a creche, seja numa vaga para a terceira idade. Quem está no terreno, faz muitas vezes, omeletes sem ovos, trabalha com um aumento constante de necessidades e com uma diminuição frequente de recursos.
Trata-se de um setor que padece da famosa doença de custos que Baumol (1967) define como sendo a diferença entre o crescimento dos salários na Economia e o crescimento da produtividade no sector dos serviços. Portanto, esta diferença faz com que os custos unitários no sector aumentem ao longo do tempo, sem que haja uma produtividade lucrativa. Todavia, somos um setor fulcral que importa cuidar, para que possamos garantir a nossa qualidade de vida enquanto sociedade. Cuidar, das crianças enquanto os pais trabalham, cuidar dos pais enquanto os filhos trabalham, cuidar dos que estão de forma da roda do rato, mas que precisam igualmente de dignidade. CUIDAR.
Acontece que não temos voz nem coesão. Vivemos de uma cultura de mendigar que desprestigia e muito a excelência profissional que se pratica nesta área. Os acordos são assinados, mesmo com valores aquém da inflação. Há uma atitude nos que nos representam de subserviência como se o Estado sempre que assina acordos de cooperação fizesse um favor, uma generosidade às IPSS. Porém, é a atitude errada. Queremos um estado social que pratique caridade ou profissionalismo de excelência?
Urge que se olhe para este setor, com vontade e de forma estrutural. É um setor onde se dá o máximo aos outros, para se receber o mínimo. Trabalha-se por turnos e aos fins de semana. As portas estão abertas 24 horas por dia, mas a carreira não é atrativa, o que leva às dificuldades de recrutamento. Isto, num setor tão delicado e vital para a sociedade. Onde são precisos braços profissionais, sorrisos sinceros e resiliência ao máximo. Não estamos na rua porque, somos pouco representados, porque não temos tempo, porque somos poucos e muito valiosos. Não podemos fechar portas, porque os que estão dento de portas, são demasiado importantes.
Por favor, se puderem vão para a rua por nós e lutem por este setor que dá muito à sociedade e recebe muito pouco.