Uma verdade la palice: o corpo Humano é constituído por ¾ de água. Seguindo o mesmo raciocínio:  Beber água faz bem à saúde? Sim. Beber água contaminada seria bom para a nossa saúde? Se calhar, não!

Ora, uma economia assente no setor dos serviços, tende a beber a água contaminada, pela baixa produtividade, e tal nem sempre se deve a uma má gestão. Digamos que é um defeito estrutural. Tal como todos precisamos de água também todas as economias precisam de serviços.

Por norma, o terceiro setor é constituído por uma manta de retalhos cheia  de pequenas e médias empresas pouco produtivas e pouco competitivas. São voltadas para o consumo final e em regra distanciadas das novas tecnologias. Com uma base salarial que assenta no mínimo obrigatório. É um setor com forte capacidade de empregabilidade porém, essa sua potencialidade não é proporcional à sua contribuição face ao PIB.

Esta perda de dinamismo tem uma teoria: a doença de custos. William Baumol  foi claro na sua tese quando afirmou que há atividades mais suscetíveis a incremento de produtividade do que outras. Contudo, sempre que há um aumento salarial, todas as atividades (produtivas ou não) são obrigadas a acompanhar esse mesmo aumento.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Veja-se: se hoje quisermos replicar um quarteto de cordas de Mozart precisaríamos exatamente do mesmo tempo e dos mesmos instrumentos contudo, tínhamos sofrido um aumento de custos: a mão de obra  dos músicos envolvidos.

Quando os salários sobem, estes passam a ser um custo asfixiante para grande parte  do terceiro setor.

Ora, nesta grande manta de retalhos encontramos as IPSSs.

As Instituições Particulares de Solidariedade Social nasceram para ocupar o espaço vazio deixado pelo Estado. Sabe-se, que não teríamos Estado Social sem as IPSSs. São estas que arregaçam as mangas e se tornam a porta ao lado, garantindo um serviço de proximidade e dão voz a minorias e a franjas  desprotegidas. São uma ferramenta para garantir a representatividade social.

Quando em janeiro se deu o aumento salarial, os 705 euros, passaram a ser um encargo para estas. Se os trabalhadores merecem muito mais? Claro que sim! Todavia temos aqui bem enraizada  a doença de custos. Higienizar, alimentar, vestir… um idoso ou uma  criança não é uma tarefa de linha de montagem onde se fazem ajustes para diminuir tempos. Estimular marcha, quer seja num caso ou noutro, implica sempre tempo e dedicação personalizada. Ou seja, é sempre necessária mais mão de obra, para as tarefas de sempre. Ora, se a mão de obra fica mais cara, é necessário aumentar as receitas. Acontece que não se pode, pura e simplesmente aumentar mensalidades, principalmente quando muitos dos que são apoiados já vivem com extremamente baixos.

Estas subidas anuais de salários não são acompanhadas por acordos de cooperação realistas face ao aumento das despesas das IPSSs, asfixiando respostas sociais e podem  obrigar à diminuição da qualidade de prestação de serviços.  Torna-se difícil contratar mão de obra especializada que promova qualidade de vida, porque esta tende a tornar-se mais um custo, quando deveria ser vista como um investimento.

Neste âmbito importa tratar o que é diferente de forma diferente. Envolver toda a sociedade civil na busca de soluções que não sejam paliativas. Aumentar migalhas nas comparticipações é sempre redutor e não resolve o problema de fundo.  Pessoal motivado e bem pago neste setor é essencial. Todos deixam os filhos ou os pais com estas equipas que dão tudo, todos os dias para que o dia a dia seja o mais rico possível.