Se há coisa que o país precisa de conhecer é a realidade das IPSS. É um setor da sociedade muito relegado. Não, não vou falar de verbas orçamentais, vencimentos ou outras questões que envolvam cifrões. Esse é um tópico com muitas variáveis.

Vou antes falar da negligencia sobre setor. Um setor que cresce, dado o aumento da esperança média de vida em Portugal e ao qual a maioria de nós, muito provavelmente vai ter de recorrer.

Esta pandemia irá expor/desafiar-nos a olhar de outra forma para este setor. Em especial para as suas equipas, para os seus procedimentos. Enquanto sociedade, temos de entrar neste mundo. Temos de exigir mais e melhor porque todos nós, volto a frisar, vamos precisar de beneficiar destas respostas.

Os ERPI não podem, não devem ser salas de espera! O mesmo se passa em todas as outras valências.

A estrutura que tutela esta realidade, tem uma visão muito desfasada da ação de terreno. E da população que recorre a estes serviços. Basta analisar a documentação definida como “boas práticas”. Não se trata da quantidade, antes a qualidade da informação que é solicitada. Recolhe-se informação duplicada, que não tem uma abrangência multidisciplinar como se exige no setor. Por falar em multidisciplinar. As equipas, são muitas vezes “uni disciplinares”. Se a lei apenas indica um técnico esse será o único contratado. Com a responsabilidade de ser um técnico multidisciplinar, desde a área da saúde, sociologia, psicologia, gestão…

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A equipa de terreno, vem regra geral do desemprego. Este é o último reduto. Não foi primeira opção trabalhar neste setor, que muitas vezes envolve turnos! Começam por ser os CEI e depois transformam-se em ajudantes de ação direta. Não há percursos formativos que formem esta mão de obra. Mão de obra escassa, envelhecida e feminina que sofre de forte desgaste psicológico. Que é relutante na frequência de formação, porque são cuidadoras 7,5 horas por dia e as restantes horas em casa, fazem exatamente o mesmo!

A legislação é pouco ajustada a esta nova realidade. Há, em vários temas com ambiguidade legislativa, hiatos que dão margem de manobra para ações diferenciadas, o que não leva à uniformização de práticas.

É um setor com pouca voz, apesar de ter uma significativa taxa de empregabilidade. Contudo, é menosprezado por não ter uma cultura de união. Em cada aldeia, há um IPSS, que não trabalha com a vizinha… porque o presidente de A não gosta do presidente de B!

Não se denota um reconhecimento destes profissionais o que faz com muitas vezes sejam pouco valorizados. Para estes profissionais não há imagens a agradecer. Não há um equipamento que os identifique. Todos nós desvalorizamos, porque, veja-se, todos achamos que sabemos cuidar! Como todos nós achamos que sabemos fazer, não valorizamos os que fazem disso  profissão.

Já começa a ganhar forma, porém é urgente mais formação neste setor. É necessário demonstrar que quem trabalha neste setor é um profissional, não um “cuidador”. Cuidadores serão sempre as famílias que tendem a exigir e a desresponsabilizar-se, assim que entregam os seus aos cuidados de uma IPSS. São famílias sem tempo, sem conhecimento de quem são os seus pais/avós envelhecidos. Muitas não os conhecem!

Quem legisla deve ouvir quem está no terreno. Quem está no terreno precisa de se unir, por forma edificar uma voz mais forte que se faça ouvir. A cada IPSS está sempre atribuído um técnico de acompanhamento. Que acompanha de forma rudimentar. Que se faz acompanhar dos decretos lei e os lê para retirar dúvidas. Muitos desses técnicos, nem formação específica na área têm. Nem sabem como implementar na prática, ou como se traduzem de forma palpável determinadas diretivas.

Quando algo não funciona bem, todos os envolvidos têm de ser chamados para que se possa comunicar. Há uma determinada sobranceria sobre este setor.  No entanto, também é um setor de primeira linha, tal como os profissionais de saúde os de segurança e tantos outros que amanhã não ficam em casa, porque não podem!

Vocês fiquem, porque podem e devem fazê-lo!