O ainda Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, não se conformou com a pesada derrota nas presidenciais frente a um candidato que, inicialmente, poucos levaram a sério. Num país onde, segundo a propaganda russa e da extrema-esquerda portuguesa, pululam o nazismo e o anti-semitismo, mais de 73% dos ucranianos elegeram Vladimir Zelenski, judeu e actor cómico.

Como vingança, Poroshenko e os seus homens na Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia tomam decisões que irão complicar a vida a Vladimir Zelinski.

Uma delas foi a decisão de marcar a data de investidura do novo Presidente para o próximo dia 20 de Maio. Zelenski, sabendo que terá de enfrentar uma maioria parlamentar agressiva, dominada pelo seu adversário, insistiu para que essa cerimónia tivesse lugar antes, mas encontrou a resistência não só do Presidente, como também do Parlamento, da Comissão Eleitoral e do Supremo Tribunal da Ucrânia. Isto porque o novo dirigente só terá sete dias para dissolver o Parlamento e avançar para eleições parlamentares.

À imagem do Presidente francês Emmanuel Macron, com quem se encontrou antes de ser eleito, Zelenski está a criar rapidamente um partido político “Servidores (Servos do Povo) para conseguir ter apoio no próximo Parlamento.

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Aliás, os conselheiros de Zelenski não escondem que a decisão sobre a dissolução do Parlamento já foi tomada.

Porém, se esta medida for tomada, poderá não ser acatada pelos deputados ucranianos. A fim de impedir a realização desse cenário, o grupo parlamentar Frente Popular abandonou, na sexta-feira, a coligação que detinha a maioria apoiante de Poroshenko, o que, segundo alguns juristas, impede a dissolução da Rada Suprema. Segundo a Constituição, os deputados têm um mês para criar uma nova coligação, o que significa que, se não for possível fazê-lo, o Parlamento não poderá ser dissolvido pois o país está a menos de meio ano das eleições parlamentares.

Mas, segundo os apoiantes do novo Presidente, a ausência de coligação no Parlamento permite a Zelenski dissolvê-lo e convocar eleições parlamentares antecipadas.

Seguindo o calendário oficial, as eleições parlamentares deverão decorrer a 27 de Outubro deste ano, o que, a ser cumprido, irá “atar os braços” de Zelenski durante quase meio ano. O perigo de desentendimentos e de confrontos é real se tivermos em conta que, por isso, não se pode excluir a possibilidade de o novo Presidente entrar em confronto com deputados, provocando novas crises políticas. Isto devido ao complicado sistema de formação do Governo no país. Zelenski, por proposta da coligação parlamentar, tem direito a apresentar a candidatura do primeiro-ministro, mas cabe a ele a escolha dos ministros dos Negócios Estrangeiros, Defesa, do presidente do Banco Central, dos membros da Comissão Eleitoral Central e do chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia. Os restantes ministros são nomeados e demitidos pelo Parlamento.

Este esquema complexo irá permitir à oposição dificultar a realização do programa de reformas que Zelenski quer rapidamente fazer.

Revelando dificuldades em respeitar o voto dos ucranianos, Petro Poroshenko, deixou alguns “presentes envenenados” para o seu sucessor. Por exemplo, assinou a lei “Sobre o Emprego do Ucraniano como Língua Oficial”, que estabelece que o ucraniano é o único idioma oficial do país. Num país onde a língua russa tem uma expressão muito significativa, a entrada em vigor da lei poderá contribuir, nas palavras de Vladimir Zelinski, para a divisão da Ucrânia, sublinhando que uma lei tão melindrosa deveria ter sido objecto de uma mais ampla discussão pública. Além do mais, a nova lei também não respeita o direito de minorias como a húngara e polaca no Ocidente da Ucrânia.

Esta lei foi alvo de fortes críticas por parte não só da Rússia, mas também da União Europeia, que pediu aos deputados que não aprovassem o documento antes de ele ser sujeito à análise da Comissão de Veneza do Conselho Europeu. Todavia, os parlamentares ucranianos não ouviram os apelos da UE.

A Ucrânia vive numa situação de “guerra híbrida” permanente com a Rússia no Leste do país, embora o Kremlin negue qualquer tipo de participação nos confrontos militares em Luganks e Donetsk. Ainda recentemente, o Presidente Vladimir Putin, decidiu distribuir passaportes russos naquelas duas repúblicas separatistas, e o objectivo não é resolver os graves problemas demográficos que a Rússia enfrenta. Experiências passadas mostram que se trata de mais uma forma de anexação de territórios dos Estados vizinhos.

Sendo assim, a Ucrânia necessita de consensos para resolver estes e outros graves problemas económicos, sociais e políticos, mas parece que a sede de poder continua a ditar o comportamento de uma parte da elite ucraniana. Esperemos que Zelenski tenha tanto êxito quanto o herói do seu filme “Servos (Servidores) do Povo”.

P.S. Ainda não sei em quem vou votar nas eleições europeias, mas irei lançar o meu voto na urna, pois é preciso travar o passo a demagogos e populistas.