O Ano Novo está prestes a arrancar e aquilo que todos queremos é que se comecem a vislumbrar laivos de alguma normalidade. Estou certa? Estamos todos à procura de uma normalidade num Portugal que, por si só, é tão pouco normal e que a este nível deixa tanto a desejar. E o que é o Ano Novo, senão a altura certa para nos enchermos de desejos? Se é para pedir e desafiar à vontadinha, então que seja agora.

Para este 2021, atrevo-me a fugir um bocadinho do já tão cobiçado desejo que implora pelo fim da pandemia. Chamem-me ingénua ou até ambiciosa, mas para este Novo Ano quero que Portugal estrague um bocadinho menos os Portugueses. E com isto quero dizer que sonho com um Portugal que abra caminhos e que construa uma sociedade activa, corajosa, honesta e capaz.

Dei por mim a questionar-me sobre que espécie de povo seremos. O que é que estão a fazer de nós? O que é que nos estão a ensinar? Que sociedade vai resultar de tantos anos de más escolhas?

A sociedade é o inevitável reflexo das políticas promovidas, das prioridades definidas, da falta de confiança, das oportunidades que não nos dão, das coisas que nos tiram da mão, da esperança que nos roubam. Somos aquilo que fazem de nós e é por isto que digo, com toda a certeza, que Portugal está a estragar os Portugueses.

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Ora vejamos:

A Rita não arranja trabalho na sua área e vai ter de emigrar, a Sofia terminou o curso e já nem lhe passa pela cabeça ficar cá, o Rui tem 32 anos e não consegue sair de casa dos pais, o Paulo perdeu o irmão nos incêndios em Pedrógão Grande e nunca mais o voltará a ver, o António é cuidador-informal e recebe um apoio miserável, a Rita tem uma pequena empresa e teve de adiantar dinheiro para conseguir pagar o layoff aos trabalhadores, o Carlos foi enganado sobre a vacina da gripe e ficou a ver navios, a Maria está há dois anos à espera de uma consulta, o Pedro não se sente seguro porque não há policiamento nas ruas, a Mariana não vota porque acha que fica sempre tudo igual, o Jorge paga tantos impostos e, mesmo assim, continua a chegar atrasado ao trabalho porque os comboios não funcionam e a Margarida conhece outros tantos exemplos como estes que aqui relatei e por isso a lista, infelizmente, é demasiado longa e cheia de histórias reais.

O que é que se pode esperar de um país que faz isto aos Portugueses? Que continuamente confina os sonhos e as ambições das pessoas, que lhes retira as oportunidades, que não os deixa ir mais além e que não valoriza o esforço e o talento?

Portugal estraga os portugueses, porque faz de nós pessoas menos ambiciosas, menos autónomas e menos capazes de se superarem. Portugal está a construir uma sociedade totalmente dependente do Estado, uma sociedade onde a falta de transparência impera, uma sociedade com cada vez mais dificuldades em criar e em se inventar.

Com esperança, desejo um Feliz Ano Novo a todos!