Portugal é uma nação. Uma comunidade histórica e natural orientada para um ideal de perfeição humana.

A primeira visão é insuportavelmente filistina, burguesa e oportunista. E também algo provinciana ou mesquinhamente bairrista, aparecendo muitas vezes associada àqueles pequenos regionalismos transfronteiriços patrocinados pelo europeísmo federalista dissolvente do Estado-nação. Atrai, como é óbvio, todos os Evaristos Tens-Cá-Disto e Sanchos Pança desta terra, sejam eles de esquerda ou direita.

A segunda concepção é heróica e imperial. Está na base do atlantismo lusíada, com tanto de soberanista como de universal. O mesmo atlantismo que libertou Portugal do primitivo quintal luso-galaico e alimentou a projeção oriental de Afonso de Albuquerque, as profecias do Padre António Vieira, o sobressalto patriótico de Mouzinho, a enérgica diáspora africana do século XX, uma boa parte da obra Pessoana e a fascinante teoria civilizacional luso-tropicalista do brasileiro Gilberto Freyre. E alimenta, ainda hoje, o Utopismo dos raros D. Quixotes portugueses, desassossegados do Espírito e inconformados com a dependência servil dos caixeiros de Bruxelas.

Sendo de lembrar aos resignadamente práticos ou escravos do pragmatismo, que o Reino de Portugal, os seus três Impérios sucessivos (do Oriente, da América e da África Austral) e a cultura contemporânea global edificada sobre a língua portuguesa começaram também por ser ideias e vontades ou Utopias.

Porque a Utopia não é necessariamente o irrealizável mas apenas o que ainda não foi realizado.

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