António Guterres. Agora que o Nobel da Paz não lhe foi atribuído – sim, a fazer fé no que por aí se lê e ouve não foi uma organização anti-armas nucleares japonesa a vencer o Nobel da Paz, simplesmente o Nobel da Paz não foi atribuído a Guterres – mas voltemos ao princípio desta conversa: agora que o Nobel da Paz não foi atribuído a António Guterres logo nos lembraram essa espécie de marco geodésico da política nacional, a saber a superlativa inteligência de António Guterres.
Há décadas que colegas, amigos, conhecidos, conterrâneos, camaradas e afins afiançam da extraordinária inteligência de António Manuel de Oliveira Guterres. Uma pessoa questiona a razão para os resultados decepcionantes dos seus governos e logo se vê confrontado com o facto de podendo ser isso verdade não se poder escamotear Guterres ter sido o melhor aluno do Técnico. Mais estranhamente ainda quando se tenta perceber o que levou esta espécie de beato da inteligência lusa a demitir-se do cargo de primeiro-ministro para, segundo o próprio, evitar que o país “caia num pântano político”, logo nos respondem com o QI de Guterres mais o seu brilhantismo enquanto estudante de Electrotecnia. O que terá a ver o seu talento para a Electrotecnia com a sua decisão-fuga naquela noite das eleições autárquicas de 16 de Dezembro de 2001?
O problema é que o engenheiro Guterres não se dedicou à engenharia electrotécnica em que se licenciou nem a qualquer outra engenharia, áreas em que a sua indesmentível inteligência se teria podido manifestar, mas sim à política actividade em que a sua igualmente indesmentível falta de senso se manifesta todos os dias. A sua actual lassidão perante os ataques do Hezbollah e do Hamas a Israel, que sucede à sua fase de profeta do Apocalipse a propósito do clima e a que se soma a sua inoperância perante a captura pelo Hamas da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente), completa o capítulo da sua caminhada para o grau absoluto da ineficácia.
O que me leva a uma outra pergunta: se Guterres fosse burro teria feito qualquer diferença?
Marcelo Rebelo de Sousa. A inteligência de Marcelo é uma certeza nacional da mesma natureza arquetípica que detectamos no castelo de Guimarães, no cabo da Roca ou nos pastéis de nata: não se explicam. Basta-lhes estar. Não há superlativos absolutos ou relativos que cheguem para caracterizar a inteligência do actual PR.
O culto da inteligência de Marcelo é uma verdadeira mania nacional pois sem que ao certo alguém consiga identificar um momento em que a enorme inteligência de Marcelo se tenha manifestado e produzido algo de útil, todos garantem que Marcelo é inteligentíssimo. Aliás é tal a clivagem entre a apregoada inteligência de Marcelo e o desacerto dos seus procedimentos que invocar a inteligência de Marcelo se tornou o comentário-desculpa mais consensual da pátria. Mas não só. O próprio Marcelo beneficia desta dicotomia entre um Marcelo brilhante desde o berço e um Marcelo em que a táctica se confunde com a infantilidade. Sim, o “Marcelo inteligente” é a muleta de linguagem que recorrentemente salva o Marcelo real da estupidez dos seus actos: Marcelo PR enredou-se no caso das gémeas? Sim, responde alguém para de imediato acrescentar “Mas ele é tão inteligente”. Marcelo contribuiu para o afastamento de Joana Marques Vidal da PGR? Sim, mas ele é tão inteligente. Marcelo não teve coragem para travar as medidas da geringonça? Sim, mas ele é tão inteligente…
A inteligência de Marcelo existe. Só não se sabe para que serve.
PS. André Ventura & Pedro Nuno Santos. Não, a inteligência de cada um não é para aqui chamada mas já a forma como subestimaram a inteligência dos demais explica a armadilha em que caíram. O problema de André Ventura e Pedro Nuno Santos nesta negociação do Orçamento é que partiram do princípio que os outros eram parvos. Ou menos inteligentes que eles. Nos outros incluo naturalmente Luís Montenegro que cada um deles subestimou mas incluo sobretudo os demais portugueses. André Ventura e Pedro Nuno Santos acharam que podiam dizer, desdizer, sim e não porque antes pelo contrário mas talvez… que certamente isso não lhes seria assacado. Não só foi como pode virar-se contra eles. Na política pode tentar fazer-se dos outros parvos mas nunca se deve acreditar que eles são parvos.