Ask not what your country can do for you – ask what you can do for your country
JFK

Cinco de outubro de 1143; oitocentos e setenta e oito anos de vida comum. Uma identidade una, coesa. Uma Pátria que excede a geografia; uma Nação que supera a relatividade.

É agora a nossa vez, dos que viverão este século XXI, de zelar por ela e de a entregar aos que virão a seguir. E isso significa deixar mais do que encontrámos. Não pode ser outro o legado inter-geracional, o compromisso dos pais para com os seus filhos.

Então perguntemo-nos o que queremos nós, os que agora estão de turno aos quase nove séculos desta história, com eles contratar? Algo melhor, por certo, já que todos queremos o melhor para os nossos filhos. Mas o quê, em concreto?

A 20 de janeiro de 1961, na sua tomada de posse, JFK desafiou os seus compatriotas a interrogarem-se sobre o que podiam fazer pelo seu país.

É um repto fraturante, inspirador. Convoca o indivíduo comum, de Dewey, para o exercício ativo da cidadania; e refreia a sobranceria da elite incumbente, de Platão. Comete a responsabilidade pelo desenvolvimento do país a todos, sem exceção; a assunção da autodeterminação do seu próprio bem-estar, medido por indicadores vários, como a riqueza, a educação, a expetativa de vida.

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Ora, na transposição para o nosso status quo, o que podemos constatar na dimensão social do nosso Portugal?

Uma frágil confiança inter-relacional e nas instituições; uma persistência da desigualdade, da precariedade, do desemprego jovem e da pobreza.

E na dimensão económica?

Acastelam-se a dívida pública e a carga tributária; o OE é, praticamente, 50% do PIB. A dívida pública foi aditivada com as transferências da EU e as receitas das privatizações – mais de 430 mil milhões de euros, mais de dois PIB anuais. Onde terão sido aplicados? Com que benefícios? E onde estarão os centros de decisão nacionais?

Paralelamente, estamos a formar gerações mais qualificadas que urge integrar e valorizar.

É consabido, está cabalmente demonstrado, que a falta de confiança interpessoal favorece o clientelismo, o patrocinato, o nepotismo, a corrupção e, genericamente, a ilegalidade. Que, por sua vez, semeiam o descrédito, instalam o desânimo, alavancam a abstenção; minam a confiança nas instituições e as fundações da democracia. Desmotivam a inteligência e desmobilizam a competência.

É o que temos. O ponto de partida é este: a ausência ou reduzida confiança inter-relacional, nos domínios público e privado. É este o demónio a exorcizar. E é este o contrato social que o nosso turno deve assumir para com os nossos filhos. Tudo fazer para mitigar o flagelo endémico, culturalmente enraizado, da falta de confiança no concidadão.

Não há, no país, uma conceção estruturalmente deficiente da arquitetura jurídica, da organização das instituições, dos partidos, das associações empresariais, dos sindicatos. Não existem sociedades evoluídas sem políticos, empresários e trabalhadores. Não há democracia sem liberdade; não há liberdade sem rendimento.

O que há, no país, é a ausência de critério nas nomeações, contratações e promoções. O que há é o flagelo das nomeações, das contratações e das promoções de amigos, conhecidos, membros, correligionários. Nomeações reféns da eufemística e tristemente designada confiança política. As nomeações, as contratações e as promoções são a pedra de toque de toda a arquitetura institucional e empresarial de um país. Malogradamente, a aristocracia republicana, que substituiu a aristocracia monárquica, não tem estado à altura do propalado princípio da igualdade de oportunidades.

Perde o país; perdemos todos.

Então, o que pode fazer a dita sociedade civil? Entregar-se a um determinismo depressivo – ao destino? Ao fado? Ou organizar-se, criar instituições de controlo, pugnar, denunciar, intervir, participar, reivindicar, manifestar-se, reclamar transparência.

O mandato inalienável que cada um de nós tem nas suas mãos é este: exigir Competência, Rigor, Seriedade, Ética e Responsabilidade na gestão das organizações públicas e privadas – a começar nas nomeações, nas contratações e nas promoções; e a terminar na prestação de contas. É que em Gestão e em Economia só há uma forma de medir a qualidade das decisões: resultados alcançados.

Excetuando impactos inevitáveis de variáveis exógenas, os programas partidários, ou de governo, têm de ser escrupulosos nas suas propostas e no seu cumprimento. Do mesmo passo, os contratos e os planos de negócio das empresas são, igualmente, para cumprir.

Os educadores, pais e professores, têm de assumir o protagonismo central neste empreendimento. Compete-nos robustecer o espírito dos nossos filhos e prepará-los, melhor do que nós o fomos, para a assunção de responsabilidades individuais e coletivas. Não basta quedarmo-nos por lhes ensinar boas maneiras, cuidados com a obesidade, a toxicodependência, a reciclagem doméstica… Importa, indo mais além, enfatizar que a essa urbanidade se sobrepõe o primado da cidadania plena.

Ensino aos meus alunos que a execução de uma estratégia empresarial se alcança com o desempenho de cada um; e que essa execução é uma tarefa diária.

O mesmo se espera de cada um de nós no que concerne aos objetivos do país. O que fazemos quotidianamente determina o bem-estar futuro de todos.

Também ensino aos meus alunos as virtualidades do empreendedorismo. Com certeza que trabalhar por conta de outrem não é uma inevitabilidade.

Temos pouco mais de 1300 grandes empresas; pouco mais de 7000 médias; pouco mais de 43 000 pequenas. Muito pouco. Este é um dos dramas do país: tecido empresarial subdimensionado; geração de riqueza comprometida.

A reunião de condições para o lançamento de novas empresas é, de facto, outro dos grandes desafios. A par do empenhamento responsável de todos os stakeholders na sua gestão e continuidade. Ninguém pode aceitar a criação de empresas motivada, exclusivamente, pela recompensa do lucro, como remuneração do risco e do capital; ninguém pode aceitar o contrato laboral deslaçado do compromisso de produtividade e empenho do trabalho; e não podemos compactuar, todos, com a desproporção do pay ratio, ou das pensões.

Sempre recordo o imperativo categórico de Immanuel Kant aos meus alunos. Que meditem, a seguir, na sociedade que querem construir e legar.

Em súmula e concomitância, um novo paradigma, estruturado, para Portugal bem poderia seria este:

  1. O país não é dos outros, é nosso; cruzar os braços é causa direta do nosso atavismo;
  2. A cidadania é um exercício de todos;
  3. As novas gerações são educadas por pais e professores para a participação cívica ativa;
  4. A par do escrutínio e da responsabilização dos decisores, as novas gerações são formadas por pais e professores para confiar no concidadão;
  5. O espírito empreendedor é fomentado por pais e professores nas novas gerações;
  6. As novas gerações são instruídas por pais e professores para se preocuparem com o bem-estar de todos e com a coesão social;
  7. O envolvimento imediato das gerações menos novas neste desígnio acelera o processo de evolução do país;
  8. A principal reforma estrutural de que o país carece é a da mudança de paradigma; e depende destes atos diários, de cada um nós. O futuro é hoje.

Somos, proclamaria Camões, inda os descendentes daqueles que, debaixo da bandeira do grande Henriques, feros e valentes, prevalecemos!

Somos Portugal! Oitocentos e setenta e oito anos a construir uma identidade comum.