Marina da Silva parece destinada a ser o próximo Presidente do Brasil. A artilharia pesada do PT e de Dilma, com a ajuda de Lula, fará tudo para evitar esse desfecho, mas será muito difícil. A Marina de 2014 recorda o Lula de 2002. E na altura o PSDB também tentou tudo para impedir o inevitável. Há dinâmicas políticas mais fortes do que todos os argumentos que se possam arranjar. O Brasil está a passar por um momento desses.

O país está insatisfeito com Dilma, está farto do PT e quer mudar. Em quase todos os estudos de opinião, cerca de 70% dos brasileiros querem que o país mude, e apenas 25% acredita que a Dilma pode liderar essa mudança. Os brasileiros usam agora o famoso – e dramático – 1-7 do Mundial para definir a economia do país em 2014: 1% de crescimento e 7% de inflação. Tendo decidido que Dilma não serve, o eleitorado brasileiro só precisava de uma alternativa. O candidato do PSDB, Aécio Neves, nunca foi visto como um futuro Presidente. Com Marina, os brasileiros encontraram a alternativa. Na primeira volta, Dilma poderá vencer Marina por dois ou três pontos, mas na segunda volta todos os descontentes com Dilma e com o PT, incluindo o eleitorado do PSDB, vão votar em Marina. A candidata do PSB simboliza a mudança que a maioria dos brasileiros pretende. Só um acontecimento absolutamente inesperado poderá impedir a vitória de Marina.

As questões importantes vão colocar-se se Marina ganhar, e logo após a noite da vitória. Sabendo-se que o PSB é um pequeno partido, com quem vai ela governar? Marina não terá uma maioria no Congresso. O PT e o seu principal parceiro de coligação, o PMDB, já anunciaram que passarão à oposição se Dilma perder. Resta a Marina e ao PSB fazer uma coligação com o PSDB, e mesmo assim dificilmente terão uma maioria política. Um confronto entre a maioria do Congresso e a futura Presidente será a receita para a instabilidade política no Brasil. E não haja dúvidas que o PT, se Marina ganhar, começará imediatamente a preparar o regresso ao poder – doze anos de poder viciaram o partido e os seus militantes – e para isso quanto mais instabilidade melhor.

Além de um possível conflito institucional, existem igualmente dúvidas em relação às políticas de Marina. A candidata tem um passado radical em relação a dois sectores fundamentais para a economia do Brasil, como o petróleo e a agricultura. Aparentemente, Marina tornou-se bem mais moderada economicamente. Aqueles que a conhecem bem dizem que é muito mais favorável à economia de mercado do que Dilma ou o PT. No entanto, ninguém sabe quais serão as suas políticas. Como muitas vezes acontece em política, para Marina o mais difícil não será ganhar as eleições. Será construir uma maioria no Congresso e formar um governo à volta de políticas claras e consensuais entre os seus membros.

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