As vacinas são um excelente exemplo de como os maiores avanços em ciência, neste caso em medicina, têm muitas vezes origem em ideias simples e sobretudo são fruto da observação do que nos rodeia. Em 1789, um médico britânico chamado Edward Jenner, reparou que algumas vacas tinham lesões nas tetas semelhantes às provocadas pela varíola no corpo humano. Jenner percebeu também que as mulheres que ordenhavam vacas com essas lesões tinham uma versão mais leve da doença, e a partir dessa observação, levantou a questão, será que o contacto destas mulheres com vacas infectadas as protege, de alguma forma da doença que afecta os humanos? O grande desafio seria agora testar em pessoas a sua teoria. O médico usou para esse fim James Phipps, um menino de oito anos; Jenner inoculou na criança pus extraído das bolhas de Sarah Nelmes, uma mulher que ordenhava vacas e que havia adquirido varíola bovina através de contacto com o gado, o rapaz teve febre mas não desenvolveu infecção, tendo uma recuperação rápida. Jenner, entusiasmado, foi ainda mais longe, pegou no exsudado da ferida de outro paciente com varíola humana e expôs a criança ao material, Phipps não desenvolveu a doença. Estava descoberta assim a propriedade de imunização, que recebeu o nome de vacina (do latim vacca).

Desde que as vacinas foram desenvolvidas, e devido às questões que sempre se foram levantando acercas delas, o princípio que norteou a sua aplicação sempre foi proteger aqueles que as tomavam, ou seja, todas as vacinas desenvolvidas e que fazem parte do Plano Nacional de Vacinação protegem de facto quem as toma, permitindo até erradicar doenças que matavam ou deixavam sequelas graves como a varíola e a poliomielite. No PNV português constam também as vacinas extra-plano, ou sejam, aquelas que são administradas consoante a realidade clínica e social de cada criança e com o acordo entre o médico e os pais das crianças.

É por todas estas razões que não posso deixar de estranhar que a Direcção Geral de Saúde venha agora recomendar a vacina contra a covid 19 a crianças na faixa etária entre os 5 e os 11 anos com o argumento que isso permitiria diminuir o número total de infecções. As vacinas devem ser administradas para proteger quem as toma e não outros. A verdade é esta, o risco de morte por covid-19 em crianças saudáveis entre os 5 e os 11 anos é praticamente inexistente, sendo assim, terá a DGS a certeza absoluta que os benefícios superam de tal modo o risco para recomendar a sua administração?

O pior que nos podia agora acontecer é que os portugueses, que sempre compreenderam a importância das vacinas e a sua eficácia, pudessem de algum modo ficar com dúvidas acerca da sua toma e por isso mesmo devemos ser exigentes no que toca à recomendação de vacinas, ou seja, estas recomendações não podem ser banalizadas nem feitas de ânimo leve, sem que se tenham feito todos os estudos e ponderado todas as variáveis.

Primum non nocere, este é o princípio da não maleficiência, ou seja, na dúvida devemos proteger o doente, poupando-o a drogas ou técnicas das quais temos dúvidas acerca da sua eficácia e que podem causar mais dano que benefício.

Precisamos é de entidades públicas fortes, credíveis e sobretudo independentes, que saibam regular e intervir quando necessário, e que protejam de facto os doentes, devendo ser completamente imunes ao poder político e ao poder da indústria associada à infecção Covid-19.

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