O País abandonou o seu interesse pelas histórias dos governantes terem os seus negócios privados a meias com as famílias, para se concentrar na economia, nos apoios do Estado às famílias e às empresas e no Orçamento do Estado para 2023, a meias com o debate sobre as probabilidades de promoção de Fernando Medina. A discussão aquece para saber se em 2023 a inflação vai ser de 4% como previsto pelo Governo ou de 4,7% como dito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e se o crescimento económico vai ser de 1,3% como defende o ministro das Finanças ou 0,7% como afirma o mesmo FMI. O Presidente da República esse já sabe, o FMI está atrasado e todos em conjunto afirmam a pés juntos que o tempo é de imprevisibilidade.
Aparentemente, ninguém se dá conta que o futuro português é bastante previsível: baixo crescimento económico, pouco investimento útil, promessas por cumprir e sobretudo a continuação do empobrecimento dos portugueses, que até já pode ser documentado para os próximos quatro anos, graças a termos um acordo de concertação social. De facto, sem os dinheiros que chegam de Bruxelas esse empobrecimento seria mais rápido e mais depressa chegaríamos à cauda da União Europeia.
Caros leitores, por favor expliquem lá isto: adoramos as pequenas e médias empresas e precisamos como de pão para boca das grandes; temos mais de 90% das empresas portuguesas médias e pequenas a esforçarem-se quanto podem para sobreviverem no mercado interno, na quase totalidade dedicadas ao comércio e precisamos desesperadamente de mais empresas industriais que cresçam e exportem; temos uma Justiça que é provavelmente o único sector do Estado que ganha dinheiro, mas é lenta, dizem que por falta de recursos; precisamos de uma ferrovia internacional virada para a exportação em bitola UIC e estamos a construir uma ferrovia caseira em bitola ibérica; precisamos de uma administração pública eficiente e de elevada produtividade, mas criamos tantas leis, tantos modelos de organização e tantas subdivisões de apoios do Estado a tantos sectores da sociedade portuguesa, que apenas poderemos esperar que cresça o número de funcionários e o seu custo, com mais anarquia e maior confusão, em parceria com a ausência de serviços decentes; precisarmos de modernizar, de mudar e de reformar e tentamos desesperadamente manter o presente e adoramos a estabilidade. Finalmente, com a economia espanhola a crescer mais do que a nossa, em vista do investimento estrangeiro na indústria, bem como cresce algum investimento financeiro espanhol em Portugal, vamos começar a ouvir falar nas vantagens da união ibérica. Espero que não.
Poderia continuar, mas basta afirmar que é falsa a imprevisibilidade da economia portuguesa, de facto é bastante previsível: temos pela frente, pelo menos, mais quatro anos de empobrecimento em relação aos outros povos europeus, ausência de investimento na indústria exportadora, que é onde esse investimento faz falta e a continuidade da estagnação económica dos últimos vinte e dois anos. Isso, claro está, se tivermos sorte e se os dinheiros da Europa continuarem a chegar.
12-10-2022