Quando será que esta pandemia acaba?

Ouço esta pergunta muitas vezes. E lembro-me logo da entrevista a Johan Giesecke (antigo responsável da saúde da Suécia), em Abril de 2020 (há mais de ano e meio!), onde visionariamente ele afirmava que, quando se entra numa estratégia de medidas de confinamento, não mais conseguimos sair dela. Este senhor considerava que não fazia sentido tentar evitar a disseminação (segundo ele, inevitável) de um vírus respiratório. Apenas deveríamos organizarmo-nos para prestar cuidados de saúde a quem deles beneficie e aguardar o estabelecer de um equilíbrio entre o vírus e nós, como sempre sucedeu com os vírus respiratórios e a humanidade. E dizia que a comparação entre a Suécia e os outros países se faria no fim da pandemia (a Suécia teve até hoje 1.478 mortos por milhão de habitantes e Portugal teve 1.795).

Ao iniciarmos estratégias de medidas de confinamento e outras, como resposta à pandemia, nunca mais saímos disto.

Depois dos primeiros 15 dias de confinamento, em Março de 2020, para “achatar a curva” dos casos e preparar o SNS para os doentes, foi com surpresa que assisti ao continuar dos Estados de Emergência, dos confinamentos e das restantes medidas, agora com o objectivo de “esmagar a curva” e tentar chegar aos zero casos (estratégia também seguida, de forma extremada, pela Nova Zelândia, e hoje já aceite como erro e impossibilidade).

Em seguida, a vacinação foi-nos apresentada como aquilo que nos iria permitir erradicar o vírus e sair deste ciclo de confina/desconfina, mais medidas/menos medidas, ao sabor dos números.

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O problema é que eu sou médico há 26 anos e nunca observei um doente com sarampo, ou poliomielite, ou varíola, ou difteria. Ao longo destes 26 anos já observei dois casos de tétano, ambos em pessoas não vacinadas. Por isso sei bem reconhecer quando as vacinas são verdadeiramente eficazes.

E não conheço vacinas com eficácia comprovada para a maioria dos vírus respiratórios (incluindo o da gripe), pois para este tipo de vírus não há vacinas que alterem de forma significativa a sua repercussão nas populações humanas.

Assim, confesso que fiquei desconfiado quando, em Novembro de 2020, surgiram os anúncios oficiais das vacinas contra o SARS-CoV-2, anunciando taxas superiores a 90%, de eficácia contra novas infecções (aqui e aqui), e uma eficácia perto de 100% contra a doença grave e a morte.

Tudo o que se tem verificado desde então apenas solidificou essa minha desconfiança inicial. As vacinas contra a Covid-19 são eficazes, sim, mas bem menos do que foi anunciado. E a sua capacidade para alterar de forma significativa a evolução da pandemia é, no mínimo, incerta.

Vejamos.
No dia 8 de Outubro de 2021, foi publicado um relatório, da autoria conjunta da DGS e do Instituto Ricardo Jorge. Esse documento apresentava os seguintes dados: em Portugal, das 8.603.453 pessoas vacinadas para a Covid-19, tinham sido infectadas 43.751 (0,5%), dessas foram hospitalizadas 774 (1,8%) e faleceram 467 (1,1%).

Ora, tendo em conta que, até 31 de Outubro de 2020 e antes de qualquer vacinação, se tinham infectado em Portugal 141.279 pessoas (1,4% dos 10.347.892 habitantes oficiais do País), tendo estado hospitalizados entre 2,7 e 3,4% dos casos activos de infecção, e falecido 2.507 (1,8%), tal significa que a vacinação em Portugal reduziu o número de infecções de 1,4 para 0,5%, os casos graves de 3 para 1,8% e as mortes de 1,8 para 1,1%.

Bem longe das tais eficácias superiores a 90% inicialmente anunciadas, não?
Por isso, quando agora nos anunciam a enorme eficácia da 3ª dose, encolho os ombros sem grandes expectativas.

Agora já se percebeu que não é a vacina que vai resolver a pandemia, e permitir o fim das máscaras, dos isolamentos forçados, dos testes, das limitações à entrada nas escolas, hospitais, lares. Não é a vacinação que vai evitar ameaças de novos encerramentos forçados e confinamentos gerais.

Agora já se comprovou o aumento das infecções por outros vírus em crianças (e com infecções bem mais graves do que as causadas pela Covid-19 nessas idades), com necessidade de hospitalização e de cuidados intensivos, como provável consequência da menor estimulação do seu sistema imunitário, impedido por estas medidas contra a pandemia de contactar normalmente com os habituais agentes microbianos.

Agora já se teme esse mesmo efeito na população adulta durante o próximo inverno.

Será que agora já podemos parar com todas estas medidas?

Agora que passou mais de um ano e meio desde o início da pandemia entre nós, e mesmo estando quase todos vacinados, nos encontramos na mesma ou quase, ainda mascarados, distanciados, desinfectados, profilacticamente isolados, limitados, e ameaçados de o sermos ainda mais se os números voltarem a subir… podemos parar e pensar um pouco?

De que valeu tudo isto? Não estará na hora de percebermos que, mais cedo ou mais tarde, TODOS vamos contactar com o vírus, é inevitável que ele entre dentro de nós, com ou sem sintomas, com doença mais ligeira ou mais grave, e que não há NADA que possamos fazer em relação a isso?

Não será altura que darmos razão a Johan Giesecke?

Por mim, já chega (e já é 18 meses demasiado tarde). É tempo de retomarmos a nossa vida normal e deixarmos o vírus entrar quando tiver de ser.

Já chega.

Quando acaba a pandemia? Se depender das autoridades de saúde (da OMS à DGS), ou das autoridades políticas (do Presidente ao Governo)… nunca! Nunca vão cessar oficialmente as contagens dos casos e dos mortos, nem vão decretar o fim das medidas e das limitações, apenas as irão aumentar ou reduzir ao sabor das circunstâncias. Têm coragem a menos e cobardia a mais.

Quando acaba a pandemia?

A pandemia acaba quando ela terminar em todos e em cada um de nós. Quando nos recusarmos a ser testados para o SARS-CoV-2, não dando o nosso consentimento para tal, seja em que circunstância for. Quando deixarmos de usar máscara, de desinfectar as mãos, de nos distanciarmos uns dos outros. Quando deixarmos de cumprir isolamentos profilácticos infinitos e sem sentido.

A pandemia acaba quando a liberdade corajosa e sem medo que existe em cada um de nós levar ao incumprimento generalizado de todas estas regras inúteis.

A pandemia acaba quando aceitarmos a existência do vírus e a possibilidade (ou mesmo a inevitabilidade) de ele entrar dentro de todos nós. E voltarmos à nossa existência humana como sempre a vivemos.

Será nessa altura que acaba a pandemia. Quando cada um se decidir libertar do medo desproporcionado que lhe foi incutido. Até essa data, a pandemia irá continuar. Depende de todos e de cada um de  nós.