Jim Morrison, o famoso vocalista dos Doors, terá dito que “quem quer que controle os meios de comunicação, controla a mente”.

Esta frase é, ainda hoje, totalmente verdadeira. A principal diferença, nos dias de hoje, está na forma como se controla a mente de quem ouve, vê ou lê. A causa? A transformação digital que o mundo está a sofrer, sendo que este setor afeta drasticamente a forma como se comunica e a forma como se consome o conteúdo.

Antes sabia-se “perfeitamente” quem fornecia os conteúdos informativos ou de entretenimento. De uma forma simples, apenas existiam jornais físicos, rádio e televisão, assentes em modelos unidirecionais e de disseminação em “massa”, ou seja, igual para tudo e para todos.

Hoje, o digital traz consigo quatro pilares fundamentais que afetam diretamente o setor dos media: efeito de rede, novos modelos de conteúdo, globalização e analítica de dados.  Quem os souber controlar, saberá obter vantagens competitivas no “controlo da mente”.

As tradicionais empresas de comunicação social pouco têm sabido trabalhar nesta nova fase do ciclo de vida da comunicação, razão pela qual este mercado tem assistido a um definhar agonizante de muitas empresas.

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O efeito de rede trouxe velocidade de acesso de consumo a conteúdos especializados, muito ruído e distúrbio nos paradigmas instalados e alargamento de produtores e influenciadores nessa rede, incluindo cada um de nós, enquanto produtores em redes sociais, blogues ou sites de informação.

Os novos modelos de conteúdo traduzem-se em modelos com elevada experiência de utilização e consumo, em particular através de consumo vídeo, áudio, em modo síncrono/live e, em particular, conteúdos especializados para consumo assíncrono, os quais estão a ser um dos grandes diferenciadores e aceleradores deste novo mercado. Saber fazer bem um conteúdo nestes novos modelos e ter a metodologia adequada para os disseminar em vários formatos e em várias plataformas não está ao alcance de todos. E alguns  meios de comunicação nem sabem o que é o conceito de rentabilização em vários formatos de um único conteúdo.

A globalização trouxe um espectro muito mais alargado de fornecedores de conteúdo, em particular os “novos profissionais” do setor com a maior vantagem competitiva da atualidade: domínio sobre a tecnologia. Empresas como Facebook, Amazon, Google, Netflix, Spotify, ou Apple são hoje empresas de comunicação e conteúdo com uma capacidade global. Ao dominarem a inovação tecnológica, conseguem pensar global e atuar local, muito facilmente, de forma eficiente e inalcançável para qualquer órgão de comunicação social de um país – televisão, rádio ou jornal.

O quarto pilar: a analítica de dados! Traz consigo uma capacidade de juntar os anteriores três pilares fundamentais e fazer o “controlo da mente” de que Jim Morrison falava. E tudo em tempo real. O digital trouxe consigo a Inteligência Artificial que, no seu expoente mais elevado, ajuda a que uma empresa de media saiba exatamente quem, como, quando, porquê e onde alguém está a ler o conteúdo e, com essa informação, influenciar.

Mas, e as empresas tradicionais de comunicação (rádio, televisão e jornal) terão alguma hipótese de resistir, ou mesmo vencer nesta nova era digital? A resposta é sim! Como? Saberem transformar-se internamente em empresas tecnológicas de forma a alinhar estes dois mundos muitas vezes distantes: a tecnologia e o negócio/conteúdos.

Se dúvidas houvesse, analisemos de forma simples o caso do New York Times (NYT). Iniciou um processo profundo de transformação digital, em 2011, ao reconhecer que provavelmente não existirão jornais “papel” em 2040. Este reconhecimento permitiu-lhes ganhar credibilidade interna e externamente, mudando a sua forma de encarar o serviço prestado. No primeiro semestre de 2020, o NYT alcançou um marco histórico: as receitas de subscrições digitais foram superiores às receitas do mundo físico do papel. Como se percebe, a transformação digital não se faz de um dia para o outro, faz-se com um planeamento e uma estratégia. Errando algumas vezes também, mas mantendo o rumo do digital.

E Portugal? Muito há certamente a mudar, tendo em atenção que, pese embora pequenas e honrosas exceções, a transformação em curso é centrada nas mesmas receitas de transferência de pessoas entre empresas, ao estilo do futebol. Provavelmente, as mesmas receitas darão os mesmos erros, ou pior.  A continuar assim, teremos um definhar das empresas nacionais, que facilmente serão “engolidas” por empresas globais.