Nestes tempos em que vivemos, tempos de radicalismos e extremismos galvanizados pela estupidificação de qualquer debate sobre qualquer assunto através das micro-doses potentes de desinformação que circulam nos X’s e nos Tiktoks da vida, parece-me útil reforçar a ideia de que ainda existem bons radicalismos – isto é, os meus radicalismos.
Sou, por exemplo, radicalmente a favor de esperar por aquele amigo do grupo que fica para trás porque precisa de atar o sapato. Sou também, imagine-se, um radical no que toca a não pôr a manteiga no frigorífico. E, como bom Sportinguista que sou, assumo-me como radicalmente a favor do Gyökeres ficar para sempre no Sporting. Se eu fosse Elon Musk, estes seriam os radicalismos que eu veicularia no algoritmo da minha rede social em declínio. Mas não sou. Não comprei nenhuma rede social. Por esse motivo, tenho de levar com os radicalismos muito chatos dos outros, como a perseguição a minorias étnicas, a transfobia generalizada e os amores pela extrema-direita. É que se for para ser chato, mais valia terem grandes opiniões sobre a crise da habitação, a dificuldade dos jovens em arranjar um bom emprego para não terem de sair do seu país ou acerca da falta de uma verdadeira política cultural para Portugal. Gastar tanta energia em ódios e partidarites agudas só gera ainda mais problemas – e disso Portugal não tem falta…
Olhem, se calhar vou ser chato também, mas enfim, se os outros podem… Sou também um radical a favor de que as forças de segurança do Estado não façam uso da violência sem esta ser extremamente bem justificada. Gostava muito que os demais radicais que acham que quem trabalha não devia ser pobre se fizessem ouvir e que, por outro lado, se ouvissem menos boçalidades no Parlamento. Por fim, sou radicalmente a favor da ideia de que deve ser o Estado a humanizar-se e não o Homem a estadualizar-se, como defendia Francisco Lucas Pires. Que ideia tão boa e tão simples: ser-se radicalmente humanista. Pode ser que pegue no TikTok.