As últimas informações reveladas pelos serviços de investigação criminal da Rússia apontam para que caucasianos, neste caso concreto, chechenos e inguches, tenham sido os assassinos de Boris Nemtsov, um dos líderes da oposição russa.

No domingo, a polícia revelou ter detido cinco alegados participantes no crime em Moscovo e um sexto fez-se explodir quando a polícia o tentou capturar em Grozni, capital da Chechénia. Na segunda-feira, foi anunciada a detenção de mais dois chechenos, sendo um deles, segundo a imprensa russa, parente de um alto funcionário do Governo de Grozni.

Entre os detidos, a figura de Zaur Dadaev, que já reconheceu a organização do crime, desperta particular atenção. Este justificou o assassinato com o facto de Nemtsov ter insultado os muçulmanos e o profeta Maomé.

Boris Nemtsov esteve entre os políticos russos que condenou a morte dos jornalistas do semanário Charlie Hebdo.

Porém, a mãe deste alegado assassino declarou à agência russa Interfax que não acredita que o seu filho tenha estado envolvido no assassinato de Nemtsov e sublinhou que ele “trabalhou de anos nos serviços de segurança  da República da Chechénia”, tendo feito parte do batalhão “Sever” (Norte).

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Em 2006, o batalhão “Sever” foi formado por Ramzan Kadirov, actual dirigente da Chechénia, sendo constituído, no fundamental, por antigos combatentes chechenos que abandonaram a guerrilha pró-russa e juntaram-se a Kadirov na luta contra os seus antigos camaradas. No fundo, trata-se de uma espécie de “guarda pretoriana” do líder checheno, que não deixa a sua segurança por mãos alheias. Não é por acaso que este batalhão também se chama Batalhão Akhmad Kadirov, pai de Ramzan, assassinado à bomba pelos separatistas.

Mas o mais interessante aqui é que, segundo o portal oficial da República da Chechénia, em 2010, Zaur Dadaev foi condecorado pelo Presidente Vladimir Putin com a Ordem da Coragem “pela coragem, bravura e dedicação, reveladas na execução do dever militar na Região do Cáucaso do Norte”.

Logo após o reconhecimento da organização do crime por Dadaev, Kadirov veio em sua defesa. Após reconhecer que “se o tribunal confirmar a culpa de Dadaev… ele cometeu um crime grave”, ele põe em causa a acusação considerando-o “um verdadeiro patriota da Rússia” e “estava pronto a sacrificar a vida pela Pátria”.

Além disso, o dirigente checheno veio também em defesa de Beslan Chavanov, alegado participante no assassinato de Nemtsov que se fez explodir na vés pera, em Grozni, quando a polícia o tentou deter. Kadirov chamou-lhe “bravo guerreiro”.

Vale a pena recordar que, segundo a justiça russa, a jornalista Anna Politkovskaya foi assassinada também por pessoas ligadas à polícia, algumas das quais originárias da Chechénia, mas, até hoje, continua a ser um mistério a identidade dos mentores do crime.

O “caso Nemtsov” parece seguir pelo mesmo caminho. No entanto, a oposição continua a apontar o dedo acusatório para o Kremlin. Ilia Iachin, outro conhecido líder da oposição, declarou hoje: “Por enquanto, para mim, a principal versão é implicação dos serviços secretos… O principal beneficiário da morte de Boris Nemtsov continua a ser Vladimir Putin. E ele deve ser, no mínimo, interrogado como testemunha. Não posso acusá-lo directamente, não se sabe quem deu a ordem, mas é claro que se deve procurar nas estruturas do poder quem encomendou o crime”.

Logo após o assassinato de Nemtsov, Kadirov foi dos primeiros dirigentes da Rússia a acusar o Ocidente e a CIA de estarem por detrás do crime para “desestabilizar a situação no país”.

Vamos aguardar o desenvolvimento das investigações. Continuando a ser difícil aceitar o papel directo do Presidente russo neste crime, pois pouco ou nada jogaria a seu favor caso isso ficasse provado, não posso deixar de recordar um instituto curioso dos gatos. Estes animais, a fim de agradar aos donos, costumam trazer os ratos que apanham e deixá-los à porta de casa, para mostrarem que são úteis.