A economia portuguesa conheceu nos anos 80 um bom período, com muitas pessoas e entrarem no mercado de trabalho e muitos a saírem, alguns antecipadamente, pela informatização e modernização dos serviços que aí vinha. Agora, esses profissionais estão a chegar ao fim de ciclo laboral, pelas idades que entretanto atingiram, tendo todos ultrapassado os 60 anos e aguardando agora a saída para a justa aposentação, que para já e sem penalizações vai ficar nos 66A e 7M.

Nos últimos anos tem-se verificado uma aproximação da idade efetiva em que as pessoas se reformam com a idade da reforma sem penalizações, pelo que é expectável que a antecipação da idade da reforma seja cada vez mais excecional, passando todos a reformar-se com mais idade, sem prejuízo de alguns regimes especiais que ainda subsistem.

São pois dezenas de milhares de profissionais que, paulatinamente, nos próximos 6 anos, vão sair para a aposentação. Em muitos casos serão oportunidades para os jovens profissionais, como, por exemplo, está já a acontecer na classe dos professores. Em outras situações não haverá pessoas com as competências dos que agora chegam à reforma e por isso terão de ser contratados os mesmos após se reformarem, como acontece já aos médicos, técnicos da cooperação internacional ou dos caminhos de ferro. Em outras situações, ainda, as pessoas que se reformam não vão precisar de ser substituídas porque entretanto os processos estão em mudança e as funções que desempenhavam vão desaparecer, seja pela introdução da robótica ou pela Inteligência Artificial associada aos procedimentos e aos processos.

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Em algumas áreas do Estado, a tributação, por exemplo, a saída das pessoas será de tal modo que terão de ocorrer, inevitável e imperativamente, simplificações do quadro legal ou poderá não haver capacidade de resposta. Noutras áreas, como as forças de segurança e defesa, será cada vez mais difícil recrutar quadros por inexistência de interesse dos cidadãos que agora são confrontados com muitas outras oportunidades. A desautorização das forças de segurança poderá também ter contribuído para esse desinteresse pelos cidadãos nestas carreiras.

A Renovação de quadros não vai ser fácil para todas as áreas em que milhares de pessoas vão sair do mercado de trabalho. Trabalha-se hoje mais anos e até mais tarde, em linha com o aumento da esperança de vida. Mas facilmente descortinamos que vão sair milhares de pessoas sem que haja igual número de pessoas preparadas para preencher esses lugares.

Estamos em quase pleno emprego e com muitas vagas a terem procura apenas entre imigrantes. Se há 20 anos nasciam apenas 120 mil pessoas e dessas muitas estão a sair do país (30 mil em 2022), significa que não haverá pessoas suficientes para colmatar as necessidades do mercado de trabalho. Em cada ano vão deixar de trabalhar 150 a 200 mil pessoas e não haverá jovens suficientes para substituir aqueles que se vão reformar.

Obviamente existe aqui um espaço para a imigração. De resto já está a acontecer significativamente. Só em 2022 o número de imigrantes cresceu em 117 mil pessoas, tendo 46 229 estrangeiros adquirido a nacionalidade portuguesa.

Nota: Em anos passados chegámos a ter ambos os saldos negativos, mas em 2022 a vinda de imigrantes superou o saldo natural negativo.