Era minha intenção deixar por ora a crise aparentemente insanável do sistema financeiro português e, em particular, da banca nacional. Infelizmente, o PS e os seus companheiros da coligação não têm emenda. Pega-se nos jornais e todas as dúvidas e inquietações que a situação inspira neste domínio, desde que o actual governo tomou posse, se confirmam diariamente, a começar pelos patéticos apelos do ministro das Finanças às agências de «rating» para que tenham pena dele…
Ignora o ministro que as ditas agências são empresas que trabalham para investidores que querem ser avisados a tempo dos riscos que correm quando investem o seu dinheiro? Ou acha ele que essas agências não têm olhos nem ouvidos? A simples notícia de hoje, segundo a qual o PS alimenta conversações sobre a «renegociação da dívida» a fim de contentar os seus aliados, é suficiente para que as agências torçam o nariz. Ora, entretanto, a Standards & Poor já melhorou a dívida do Brasil três níveis – todos «lixo», mas há «lixo» e «lixo» – logo que aquele país deu ar de voltar ao crescimento!
E se fosse só isso… Mas não! O ruído em torno da CGD não cessa, comprovando duas coisas: o governo nunca informou correctamente a opinião pública antes de iniciar o badalado processo de capitalização e, agora, já começou a negar as promessas que tinha feito antes. Primeiro, como por acaso, descobriu-se que no ano passado a Caixa acumulara 2 mil milhões de euros de défice e reconhecera mais mil milhões de imparidades. Juntamente com os 5 mil milhões da capitalização, já lá vão 8 mil milhões que alguém há-de pagar. Não interessa se o governo viverá o tempo necessário para voltar a «martelar» o défice, como fez no ano passado, a fim de obter as graças de uma UE em plena crise… Mesmo que o fizesse, a dívida real continuará sempre lá e é paga ou nunca mais ninguém nos emprestará um tostão!
Em segundo lugar, como era aliás fácil de adivinhar, acaba de se revelar a enorme extensão dos cortes no pessoal e nas agências prometidos à UE a fim de obter autorização para excluir o dinheiro da capitalização estatal da Caixa no défice orçamental (já António Domingues falara de 3.000 funcionários em 8.000 e tal). Perante os expectáveis protestos dos sindicatos e dos partidos, já se percebeu que a promessa, como de costume, não era para cumprir, quando estamos fartos de saber que o «emagrecimento» da CGD ditado pela informatização da indústria bancária tem mais de uma década de atraso em relação ao resto da banca. Portanto, além de atirar muitos milhares de milhões de euros para cima dos défices e calotes acumulados durante anos e anos, pouco ou nada será feito para a Caixa deixar de ser o «buraco» que tem sido!
Em compensação, dizia candidamente o actual o governo, nada de grave se passava no Montepio. Como sempre, o ministro do Trabalho e Solidariedade Social, que tutela a Associação Mutualista, fechou-se no mesmo negacionismo que tem em relação às pensões e ao envelhecimento da população, recusando qualquer esclarecimento. Nada de anormal de passava, pois, no Montepio. A força das coisas, porém, fez vir ao de cima as tristes proezas de mais um banco ao serem divulgados os processos movidos contra Tomás Correia e outros responsáveis. A narrativa, para usar uma expressão na moda, é sempre a mesma: hiper-valorização das acções e vultuosas imparidades não reconhecidas, o que significa na prática que o banco não vale nem de perto nem de longe o que diz valer. E por isso mesmo também não encontra quem venha em seu socorro.
Mas a prova que o actual governo não tem emenda não vem só pelas más notícias que não cessam de se acumular dia após dia. Vem também pelo silêncio embaraçoso do governo. Neste caso, o estranho silêncio que continua a reinar acerca da tentativa de vender o que resta do grupo Espírito Santo funciona como mais uma péssima notícia. Já vamos a caminho do terceiro ano da «resolução» e o banco não cessou de perder valor cada dia que passou. Entretanto, se não for vendido até Agosto de 2017 – prazo limite dado pela Comissão Europeia – deverá em princípio ser liquidado: mais dívida!
Já se tentou a venda uma vez em 2015 e esta segunda, anunciada semana após semana sem conclusão, constitui segundo o presidente do PS um «fiasco». É o mínimo que se pode dizer! Onde boa parte do PS e os seus aliados de governo pretendem chegar, sabemos nós: nacionalizar os restos e, porventura, enfiá-los na CGD. Seriam perdas a pagar pelos contribuintes de muitos e muitos milhares de milhões de euros. Sem emenda, é possível que o governo quisesse fazê-lo, mas não é de crer que haja quem lhe faça crédito para tal. É nisto que está a dar a reversão generalizada das medidas tomadas pelo anterior governo a fim de tentar criar condições de efectiva estabilidade económica e financeira no país, viabilizando assim o crescimento que não temos há mais de quinze anos!