Na aparência, o sistema financeiro seria o último problema a resolver pelo actual governo anti-austeritário e, segundo o presidente da República, está quase a ser resolvido… Mas não foi nem é nada disso. É, sim, a ponta do iceberg de uma infinidade de coisas erradas no tecido sócio-económico português, que o actual governo não só não resolveu como agravou, desde a re-estatização da sociedade à reversão de empresas privatizadas e à devolução do funcionalismo público e para-público ao controle sindical. O queijo «gruyère» que o sector financeiro já constituía no tempo em que foi saqueado pelo governo Sócrates e a sua clientela não mereceu a devida atenção da «troika», tendo a resolução do problema sido adiada até hoje.

Já lá vão mais de quinze meses que actual governo se propõe sanear o sector mas a única mudança efectiva foi a compra, pela concorrência espanhola, de dois bancos sem outra saída… Entretanto, milhares de milhões de euros continuam a fugir regularmente pelas frinchas do «sistema», ao mesmo tempo que se promete, sem cumprir até agora, compensar beneficiários do esbanjamento como os «lesados do BES». Só o dito BES viu os 5.000 milhões de euros do seu valor de resolução volatilizarem-se num ano e meio, continuando o governo à procura de um «fundo abutre» que pegue depressa no Novo Banco, sob pena de a falência fraudulenta do Sr. Salgado e companhia custar ainda mais dinheiro aos contribuintes!

Incapazes de resolver um problema virtualmente sem solução, aqui como nos outros países em situação de dívida excessiva, o PS e os seus aliados, viram-se irresponsavelmente contra as poucas instituições nacionais que procuram conter as perdas, como o Banco de Portugal (BP) e o Conselho das Finanças Públicas. A guerrilha do ministro Centeno contra os reguladores destina-se, além de saldar contas antigas com o governador do BP, a encobrir os factos que não cessam de se acumular.

Primeiro, é o tal fundo «Lone Star» que não fecha o negócio do ex-BES nem com o Estado português a assumir novos encargos, segundo transpira do secretismo das negociações, em vez de o governo proceder de vez à liquidação do banco como se arrisca a ter de fazê-lo perante o Banco Central Europeu (BCE) se os «abutres» não o quiserem dentro do prazo fixado… Como se isso não bastasse, a CGD, finalmente entregue à sua nova gestão sem nunca o governo explicar o que se passou entretanto, começa por descobrir o maior défice de sempre, além de assumir novas imparidades, num total de perto de 5 mil milhões que alguém há de pagar.

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Para continuar a saga do sistema financeiro, o Banco de Portugal acaba de revelar que o governo não tem cumprido as suas funções de regulador da associação proprietária do Montepio e que o banco apresenta, previsivelmente, «um perfil de alto risco»: será mais uma situação que os contribuintes virão a pagar? Perante um «sistema» destes, não é de admirar que os investidores estrangeiros se afastem cada vez mais da compra da nossa dívida, apesar de os juros já rondarem os 4%.

Com efeito, o optimismo apregoado pelo PS e pela comunicação social que o leva ao colo desde o tempo de Sócrates, parece não convencer os mercados internacionais. E menos os convencerá quando as taxas de juro aumentarem, como se prevê que suceda nos Estados Unidos e o BCE já é pressionado para fazer o mesmo. Assim se percebe que o governo do PS tenha feito toda a espécie de malabarismos para agradar ao EuroGrupo, ficando dentro do limite do défice (sempre negativo, note-se!), a fim de beneficiar não só dos empréstimos do BCE como da solidariedade partidária dos últimos socialistas que restam na Europa do Sul. Foi graças a estes precários apoios, que só enganam os tolos, que a geringonça se aguentou até agora e mascarou a crise do sistema financeiro.

Contudo, o possível cenário de uma UE de geometria variável, anunciado por Juncker e ao qual António Costa se apressou a aderir da boca para fora, representará, se for por diante, que Portugal se verá rapidamente remetido para a penúltima velocidade (abaixo da Grécia) e corre o risco a ver a sua dívida subir por aí acima, até perder a cotação da DBRS, e entrando em roda livre. Nessa altura, Portugal arrisca-se não tanto a sair do «euro» mas sim este a sair de Portugal, deixando-nos entregues ao regime político proteccionista e autoritário de uma extrema-esquerda que não deseja outra coisa. Será isto que queremos? É para lá, contudo, que o governo nos está a arrastar!

1.º P. S. Peço desculpa do meu erro de 2016 quando escrevi que o queijo Gruyère era francês… É suíço, claro!
2.º P. S. Enchi o artigo de links porque, não sendo economista de formação, quis sangrar-me em saúde, por assim dizer!