Quando militei no Partido Comunista Português, aprendi a desconfiar do capitalismo, do imperialismo, das forças da reacção interna e externa, mas particularmente do povo, pois não há meio de fazer com que ele apoie quem deva. Daí ser necessária a existência de um partido de vanguarda que conduza essa massa irresponsável.

A filosofia do PCP, e este é mais um dos sinais da “coerência comunista”, continua intacta e, pelos vistos, irá morrer com esse partido.

Nas últimas eleições, o PCP, mesmo “honrando os compromissos assumidos com os trabalhadores e o povo” (editorial do “Avante”), viu o número de deputados baixar de 17 para 12 deputados.

E de quem será a culpa? A resposta é precisa e está no mesmo editorial do “Avante”: “O resultado da CDU é inseparável da intensa e prolongada operação de que foi alvo, sustentada na mentira, na difamação, na promoção de preconceitos, no silenciamento ou desvalorização da sua mensagem em contraponto à promoção ostensiva de outras candidaturas”.

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A explicação do costume: a culpa é dos órgãos de comunicação e dos jornalistas, mas, desta vez, até passamos a saber o nome de um deles: Carlos Vaz Marques.

O jornalista comunista (que os há em Portugal, e não só no “Avante”, o que é um bom sinal para a democracia, Gustavo Carneiro, escreve no órgão do Comité Central do PCP: “O caso do Partido Ecologista «Os Verdes» é, a este título, paradigmático. A vontade de apagar os seus representantes, propostas e actividade é tal que o jornalista Carlos Vaz Marques (CVM), na madrugada de segunda-feira, celebrou na sua conta de Twitter a saída de cena – no caso, da Assembleia da República – da «ficção que sempre foram os Verdes». Não sabia, nem lhe interessou saber, que o PEV saiu das eleições de domingo com o seu grupo parlamentar intacto, fruto da eleição de dois deputados: Mariana Silva, por Lisboa, e José Luís Ferreira, por Setúbal”.

Discordo com Carlos Vaz Marques quando diz que o PEV constitui uma “ficção”. Há muito que é evidente que esse partido é uma realidade, simplesmente uma melancia: verde por fora e vermelha por dentro e, neste caso, com dois pevides intactos.

Serão poucos os que desconhecem a arte do PCP de criar partidos e coligações artificiais para amaciar e esconder a sua verdadeira matriz ideológica, mas recordo alguns para os que andam mais desatentos: Movimento Democrático Popular, Partido Ecologista “Os Verdes”, Coligação Democrática Eleitoral (CDU)…

Carlos Vaz Marques também não conseguiu discernir a capacidade advinhadora do PCP ao criar o PEV há 37 anos, segundo Gustavo Carneiro, “antes, muito antes, do «planeta» estar na moda”. Bem tinham razão os ideólogos soviéticos da era estalinista quando defendiam que “a URSS era a pátria dos elefantes”, pois nos confins da Sibéria, há milhões de anos, por lá andaram mamutes.

“São estes critérios jornalísticos que ajudam – e muito – a explicar os Chegas e os PAN’s desta vida”, conclui o jornalista comunista.

Quanto ao PAN não me pronuncio, pois ultrapassa-me a filosofia dessa força política, mas, no que diz respeito aos “Chegas”, preocupa-me não só a eleição de um deputado por essa força política de extrema-direita (embora não seja de todo surpreendente devido, por exemplo, à corrupção impune), mas também o facto de o “Chega” ter tido mais votos nos territórios outrora pertencentes ao Partido Comunista, e não no “Norte reaccionário”.

Esse fenómeno registou-se e regista-se noutros países europeus, mas será certamente um bom tema de investigação para os sociólogos, principalmente para a escola do Professor Boaventura Sousa Santos.

Quanto aos restantes resultados eleitorais, é evidente que a maioria dos portugueses não gosta de mudanças, principalmente quando o “pântano” ainda permite uma “vida normal”, daí eu recear que voltaremos a não estar preparados para quando chegar a crise ou as crises internacionais cíclicas. A ver vamos…

P.S. Como se irá chamar a nova forma de governar em Portugal? Acho que a geringonça vai continuar, pois é a única de forma do Bloco de Esquerda e do PCP sentirem um “cheirinho” do poder.