Há alguns anos, estava na faculdade a sentir-me como provavelmente muitos de nós já nos sentimos, e como muitos estudantes se sentem agora. Não fazia ideia do que estava lá a fazer, porque estava a aprender álgebra, ou o que queria fazer no futuro.

Na altura, o que toda a gente queria era que eu fosse bem sucedido. Perguntava eu, o que significava tal coisa. Aparentemente, para a sociedade, ser bem-sucedido costuma significar atingir um conjunto de objetivos que invariavelmente se refletem em dinheiro, bens materiais e estatuto. Diz-se que a melhor forma de lá chegar é tirando um bom curso, acabar com uma boa média, entrar numa boa empresa, trabalhar muito e ir subindo na hierarquia.

Quantas depressões, quantas crises de meia-idade serão precisas para ganharmos consciência de que estamos a perseguir uma verdade que nos parece tão certa, mas que não passa de uma ilusão?

A verdade é que nos foi vendida uma grande mentira. Disseram-nos que se fossemos pelo caminho mais seguro e trabalhássemos muito, eventualmente seríamos bem sucedidos. Mas quantos de nós lá chegam para se perguntarem se era mesmo aquilo que queriam? Não há pior do que lutar uma vida inteira para atingir um conjunto de objetivos, para depois nos sentirmos absolutamente vazios quando os atingimos.

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Quando estava na faculdade, não fazia ideia do que queria fazer ou ser no futuro, mas sabia que não queria esse vazio para a minha vida. Confesso que, às vezes, era difícil fugir ao molde que foi desenhado para a todos nos moldar. A pressão para seguir os outros era muita, mas houve  um momento em que comecei a questionar-me. Se existem pessoas que não se conformam com o status quo e trilham o seu próprio caminho, porque não poderia eu ser um deles? Porque deveria eu viver uma vida que foi me imposta pela sociedade, se me podia alinhar com aquilo que realmente achava que era certo para mim?

Após muito debate interno, decidi que se existem tantas pessoas infelizes a viver pelas regras dos outros, mais valia tentar ser feliz vivendo pelas minhas próprias regras.

Nada tenho contra a faculdade, mas percebi rapidamente que o meu caminho não passava por lá. Aos 18 anos, sem nunca ter jogado futebol profissional, decidi sair da faculdade para ser guarda-redes. Na minha cabeça, o objetivo era tirar o lugar ao Casillas no Real Madrid, mas acabei a jogar pela seleção nacional de futebol de praia no Dubai. Depois de uma rotura de ligamentos que me impossibilitou de jogar, decidi voltar à faculdade, para passado uns meses voltar a sair, para criar a minha própria empresa. Como muitos, não sabia o que queria fazer, mas decidi seguir sempre o meu instinto e ir atrás do que me parecia mais certo para mim.

Pelo meu percurso mais invulgar, tenho tido o privilégio de ser convidado para, quase semanalmente, dar talks em faculdades. Aos milhares de estudantes com quem já me cruzei, pergunto sempre se sabem o que querem fazer no futuro — invariavelmente, a resposta é que ninguém sabe. Como ninguém sabe o que quer fazer, e há uma grande ânsia para tomar uma decisão, a decisão costuma recair em seguir a multidão.

Para contrariar essa tendência, a ideia que costumo partilhar com eles é a de que a nossa sociedade é uma fábrica especializada em produzir human commodities.

Na economia, commodities como trigo, grãos de café ou gasolina não têm uma forma fácil de se diferenciar e, por isso, competem em preço. Nós, enquanto seres humanos, não somos diferentes. A sociedade aplica o mesmo molde a todos nós, o que faz com que, se aceitarmos ser moldados, acabemos todos iguais. Todos acabamos com o mesmo curso, as mesmas aptidões, conhecemos as mesmas pessoas e temos as mesmas experiências. Até fazer Erasmus ou voluntariado se tornou banal hoje em dia. E não são as notas que vão ser o grande fator diferenciador.

Na economia, por não se conseguirem diferenciar, as commodities competem em preço. Da mesma forma, as human commodities, sem grande fator diferenciador, acabam por competir nos salários e horas de trabalho, sendo forçados a trabalhar mais horas por menos remuneração, de maneira a superar os seus pares. E todos sabemos que não é este o caminho que queremos seguir.

Quem já fez snorkeling ou foi a um oceanário, já deu por si constantemente à procura do peixe mais colorido ou mais bizarro. Os peixes “normais” no cardume simplesmente não despertam qualquer interesse. Quem recruta não é diferente. Quem compra não é diferente. Enquanto seres humanos, estamos sempre à procura de algo único!

A única forma de saltarmos à vista e de nos destacarmos dos outros é ao desenvolver skills alternativas, ao nos aventurarmos em experiências invulgares e ao apostarmos no que nos torna únicos.

Antes de decidir viver pelas minhas próprias regras, diziam-me que era perigoso tentar seguir um caminho diferente. Hoje, acredito que a decisão mais perigosa que podemos tomar é a de seguir a tendência e nos fundirmos com o cardume.

A verdade é que os peixes mais extraordinários não costumam estar acompanhados.

Fred Canto e Castro tem 24 anos e é o fundador da Sonder People, um marketplace tecnológico que conecta pessoas autênticas com oportunidades de trabalho em publicidade. É apaixonado por desenvolvimento pessoal e comportamento humano. Integrou os Global Shapers em 2018

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro do país, com base nas respetivas áreas de especialidade, como aconteceu com este artigo. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.