Quinta-feira não foi um bom dia para o eng. Guterres. Após as IDF rebentarem com o CEO do Hamas, Yahya Sinwar, o secretário-geral da ONU surgiu no Twitter a criticar Israel, o único exercício que pratica regularmente. Como não teve coragem de lamentar a morte do sr. Sinwar, o eng. Guterres optou por achar “inaceitáveis” os ataques à UNIFIL, as forças de “manutenção da paz” que a ONU mantém no Líbano, e cujo conceito de “paz” consiste em permitir que o Hezbollah bombardeie o vizinho a sul sem parança, em permitir que o Hezbollah construa túneis e centros de munições com adequado vagar, em permitir que o Hezbollah ocupe com milícias terroristas as zonas que em teoria deviam controlar, e em ignorar os avisos de Israel para saírem da área de influência que permitiram ao Hezbollah criar. Sem respeitar o luto alheio e com delicioso cinismo, o MNE israelita veio notar que o eng. Guterres não festejou o fim do sr. Sinwar, e aproveitou para lhe recordar o estatuto de persona non grata no país.

Percebe-se a dor do eng. Guterres. Para quem convive mal com a sobrevivência de Israel, ou pelo menos com a teimosia de Israel em se defender dos que desejam erradicá-lo da superfície do planeta, o sr. Sinwar devia ser um ídolo. Antes de falecer subitamente, passou décadas a combater “sionistas”, a assassinar colaboradores de “sionistas” e, nos intervalos, a torturar devidamente homossexuais. Foi, dizem os devotos com admiração, o cérebro por detrás do 7 de Outubro, acção de resistência em que resistentes do Hamas violaram, esventraram, raptaram ou incendiaram mil e tal civis culpados de judaísmo ou complacência. O cérebro costumava ser visto no Qatar, nação-modelo que recebeu um campeonato da FIFA e diversas visitas do eng. Guterres. Partiu, desta para melhor, na sua Gaza natal, sentado num sofazinho e a atirar um pau contra um “drone” que filmou tudo. Pascal garantia que morremos sempre sozinhos. Pascal não se viu perseguido pelas IDF.

Viver, o eng. Guterres não vive sozinho. Por todo o mundo, em particular o ocidental, imensa gente se condói com o fim – terreno – do sr. Sinwar. Nas incontáveis manifestações de apoio ao Hamas, perdão, de críticas a Israel que enfeitaram tantas cidades durante o último ano, a frase mais berrada era “From the river (qual?) to the sea (que mar?), Palestine will be free (livre do quê?)”. A segunda frase teria a ver com o “genocídio” ou assim. Porém, a terceira frase em destaque nos megafones era “Sinwar, não te deixaremos morrer”. Nunca se promete o que não se tem a certeza de poder cumprir, mas esse não é o ponto. O ponto é que milhões de pessoas aplaudiam assumida ou discretamente o sr. Sinwar com o ardor que dedicariam a qualquer primata que abominasse Israel. O ponto, ou o critério de admissão na ortodoxia vigente, é abominar, ou no mínimo destratar Israel. No caldo, ou na ortodoxia, cabem transtornados religiosos, “activistas” da extrema-esquerda, “estadistas” de extrema-esquerda, ditaduras sortidas da Venezuela à Rússia, neo-nazis, “conspiracionistas” de onde calha, “humanistas” selectivos, engenheiros pantanosos, etc. E, sentem-se num sofá mas evitem “drones”, supostos moderados.

Os moderados são sujeitos aparentemente decentes, tão decentes que até reconhecem que o Hamas e o Hezbollah são organizações terroristas, que o sr. Sinwar e os homólogos do Líbano tendem um nadinha para a psicopatia, que o regime iraniano é capaz de não contribuir largamente para a harmonia universal, e que Israel, vá lá, tem direito a existir. Em simultâneo, exigem a Israel o exacto tipo de abdicações e mesuras que conduziriam num ápice à respectiva inexistência.

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Veja-se os exemplos, de resto corriqueiros e inconsequentes, do governo português, leia-se do dr. Rangel e do dr. Montenegro. Ambos condenam o “uso excessivo” de força pelas tropas de Israel em Gaza e no Líbano. Ambos condenam Israel por não aceitar cessar-fogos “imediatos” e conversa fiada. Ambos condenam que militares da ONU sejam “alvos intencionais” (palavras do dr. Rangel) de Israel. Ambos condenam Israel por desprezar o eng. Guterres, cujo “papel é mais necessário que nunca” (idem).

Vamos por partes. Primeira Parte: qual seria a retaliação que os nossos queridos governantes achariam adequada? Estuprar e esfaquear 1.139 transeuntes em Gaza e devolver ao Hezbollah a mesmíssima quantidade de “rockets” que caem em Israel? Pelos vistos, nem isso, já que temos a Segunda Parte, na qual Israel tem de parar “imediatamente” (e, supõe-se, unilateralmente) as hostilidades, aceitar ataques de tarados a sul e a norte e dialogar com os tarados, talvez enquanto estes degolam uma ou duas crianças. Na Terceira Parte o dr. Rangel engana-se quando considera os militares da ONU “alvos intencionais” de Israel: pelas razões acima referidas, no máximo os militares da ONU prestam-se a ser alvos por intenção do Hezbollah. E na Quarta Parte, sobre o “papel” do eng. Guterres (e da ONU), o PM e o MNE devem estar a brincar.

Israel não brinca e, indiferente aos que, com óptimos ou péssimos propósitos, concorrem para a sua extinção, prossegue a extinção metódica e útil dos inimigos. Os “amigos” têm sido inúteis. Israel depende de si próprio. E, em larga e irónica medida, a civilização que lhe volta as costas depende de Israel.