Conheci o jornalista guineense António Aly Silva quando, no início dos anos 90, coordenei a equipa docente que, pela Faculdade de Direito de Lisboa, num programa de cooperação luso-guineense, levou à instalação da Faculdade de Direito de Bissau, um raro projeto de sucesso numa instituição que hoje perdura.
Aly Silva era então jornalista de “O Independente” e distinguia-se pela acutilância e coragem dos seus escritos. Nem sempre concordei com os seus pontos de vista, posso dizer mesmo que muitas vezes discordei deles, mas sempre o reconheci como um jornalista empenhado numa luta pela liberdade e pela justiça na Guiné-Bissau.
Seguindo com especial atenção a vida da Guiné-Bissau, fui-me cruzando ao longo dos anos com os escritos de Aly Silva, que foi mantendo o seu estilo desassombrado, muitas vezes polémico e às vezes até provocador.
A notícia recebida do seu rapto, espancamento e abandono deixou-me consternado.
O povo guineense é um povo admirável que merece singrar no quadro de uma democracia que respeite a pluralidade de opiniões, a liberdade de expressão e o Estado de Direito. Infelizmente, essa trajetória tem sido sucessivamente interrompida pela violência e pela falta de respeito pelo direito do outro.
Não me interessa de quem Aly Silva está politicamente próximo, é-me mesmo indiferente esse posicionamento. Aquilo com que a Guiné-Bissau não pode passar é sem jornalismo livre e independente. E não pode consentir no silenciamento e perseguição à opinião de quem quer que seja.
Congratulo-me pela rápida reação da Liga Guineense dos Direitos Humanos e da Associação dos Jornalistas de Cabo Verde. Espero que outras entidades, na Guiné-Bissau, em Portugal, e nos restantes países da CPLP, ergam a sua voz para defender a liberdade de imprensa e o fim da violência contra jornalistas ou quaisquer cidadãos no exercício dos seus direitos cívicos.
Deixo o meu abraço de solidariedade ao Aly Silva. Não preciso de lhe dizer para que não quebre, porque sei que isso nunca acontecerá.