O CEO da Ryanair, afirmou que, para ele, “o político das últimas décadas mais influente foi Margaret Thatcher” porque promovia o trabalho, baixando impostos, enquanto punia quem podia, mas não queria, trabalhar, cortando-lhes o acesso fácil aos impostos vindos do trabalho alheio. Michael O’Leary afirmou ainda que sem esse legado recente economicamente liberal de Thatcher estaríamos todos a viver numa república pobre de gente que pode, mas não quer trabalhar. Essa república com certeza é a Portuguesa socialista atual. A Irlanda, de onde O’Leary é oriundo, tem-se inegavelmente inspirado no legado liberal para criar riqueza e empregos bem pagos através da diminuição de impostos. O resultado é que, segundo a OCDE, o crescimento acumulado do PIB irlandês realizado e previsto entre 2019 e 2023, é cerca de 600% superior ao português. Isto porque o governo português premeia indevidamente aqueles que não querem trabalhar para produzir riqueza, com milhões de euros vindos dos impostos de quem trabalha. Poderíamos citar muitos exemplos dessa prática governativa socialista empobrecedora de Portugal, que desincentiva o trabalho, mas citamos só dois que testemunhamos recentemente: TAP e consulado português de Londres.

Na terça feira, 4 de Janeiro de 2022, de manhã cedo, viajei na British Airways de Lisboa para Londres, a horas e sem quaisquer problemas. Até chegámos ao destino 40 minutos mais cedo do que a hora prevista. Todas (quase todas) as companhias de aviação e outras companhias da respetiva infraestrutura de suporte no aeroporto da Portela (e no de Heathrow) estavam a trabalhar. Nessa mesma manhã também podia ter viajado do mesmo aeroporto Humberto Delgado para vários aeroportos em Londres, sem problemas, na Easy Jet ou na Ryanair. Só não podia ter ido na TAP. Quando cheguei ao aeroporto de Lisboa, um pouco antes das 5 da manhã, a TAP já estava bem “ativa”, imparável no parar de trabalhar, pois já tinha cancelado sete voos só para essa manhã, incluindo o voo para Londres. Nenhuma outra companhia nessa manhã cancelou um único voo (fotografias comprovativas enviadas para o Observador).

Durante o resto desse dia a TAP foi a única a anunciar o cancelamento de ainda mais voos em Lisboa. Doze partidas canceladas no total, o que, somando ida e volta, significava 24 voos cancelados no total (comprovativos também enviados ao Observador). A TAP tem direitos adquiridos de 360 slots (lugares para chegar ou partir) diários no aeroporto da portela, mas mesmo que não cancelasse voo só planeava usar 108 slots de chegadas. Ora no dia 4 de janeiro usou então, nas chegadas à Portela apenas 108-12 = 96 de slots. Duplicando esse valor para somar as partidas chegamos ao número total de apenas 192 slots usados pela TAP no dia 4 de janeiro. Infelizmente, para a economia nacional, a TAP não deixou usar na Portela 168 slots (360-192) num só dia. Isto são cálculos por alto, mas o que é inegável é que a TAP não usa quase 50% dos slots a que tem direito na Portela. Ou seja, nos aeroportos portugueses onde opera, a TAP não trabalha nem deixa trabalhar as outras companhias de aviação como referem quer o já referido Michael O’Leary, quer o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira.

A TAP está aliás imparável nos cancelamentos. No dia seguinte ao da nossa viagem fez ainda mais cancelamentos: 14 só na manhã de 5 de Janeiro de 2022. A meio da tarde quando acabávamos de escrever este artigo já ia a caminho dos 30 voos cancelados num só dia.

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Ninguém chega à TAP no que toca ao cancelar de voos enquanto facilmente puder arrecadar os nossos impostos.

Aliás, neste período de férias de Natal e Ano Novo em que a diáspora lusitana e os turistas que gostam de Portugal tanto precisam de companhias áreas fiáveis, a TAP foi a mais inviável, perdão não fiável, na Portela. Desde a véspera de Natal, cancelou cerca de 20 voos por dia, num total de cerca de 200 voos cancelados em menos de duas semanas. Esta quantidade deve, sem dúvida, ter deixado milhares de clientes ainda com menos vontade de alguma vez mais viajarem na TAP para que esta consiga algum dia começar a lucrar.

O motivo invocado pela TAP para ser a campeã dos cancelamentos de Natal na Portela foi a baixa de tripulantes devido a infecção por covid-19. Ora se esse é o caso, e uma vez que as outras companhias áreas que não cancelaram voos na Portela, vivem no mesmo mundo endémico e operam voos semelhantes na Portela, estando todas sujeitas à mesma rápida propagação da variante Omicron, então das duas uma: ou a TAP tem protocolos deficientes de sanitização que levam a um muito maior número de infecções entre as suas tripulações; ou a TAP, ao contrário das outras companhias áreas, não tinha nem teve quaisquer planos de contingência para substituir o pessoal infectado por SARS-Cov-2 por pessoal não infectado que tenha espírito de equipa e grande vontade (ou necessidade) de agradar e reter clientes, fazendo as tarefas normalmente atribuídas aos infectados. Esta última hipótese parece-nos mais provável, mas para baralhar ainda mais tudo, estranhamente, os destinos cancelados pela TAP foram maioritariamente os mesmos que as low cost praticam para a Europa. Estranho vírus este que só ataca tripulações da TAP para destinos europeus!

Com a mesma atitude e “dedicação” a não querer trabalhar, citamos o segundo exemplo de dependentes dos impostos Portugueses assegurados no seu vencimento mensal, apresentem ou não resultados, cancelem ou não o seu trabalho: O consulado português de Londres. Tínhamos um passaporte que expirava no final de Fevereiro de 2022. Assim, sabendo da enorme fama de lentidão e inação do dito consulado, cerca de 7 meses antes dessa data, em Agosto de 2021, começamos a enviar emails no sistema do consulado de Londres solicitando uma marcação a qualquer hora e dia a que os excelentíssimos senhores funcionários do consulado se dignassem a estarem disponíveis para trabalharem 15 minutos e renovar-nos o passaporte (relevantemente, em menos de 1 mês após pedido semelhante para outros consulados em Londres, renovámos passaportes franceses e americanos cá em casa sem problema nenhum). A maior parte dos emails nunca foram sequer respondidos.

Muitos meses depois, o consulado português finalmente respondeu, um pouco antes da véspera de Natal, a 16 de Dezembro de 2021, não com o cómico “é que agora mete-se o Natal de modos que só para Janeiro, ou mesmo depois da Páscoa”, mas com o trágico-cómico “Lamentamos informar que os serviços consulares se encontram com a agenda preenchida para o ato consular pretendido. Estamos a desenvolver todos os esforços no sentido de reforçar a capacidade de atendimento e abrir vagas adicionais.

Se só para responderem a isto, sem sequer apresentarem qualquer horizonte em 2022 (ou 2023, 2024?), a partir do qual marcações estivessem disponíveis, levaram meses no consulado de Londres, então claramente não iríamos conseguir renovar o passaporte em Fevereiro de 2022. Fizemos assim o que a esmagadora maioria dos 170 000 Portugueses a viverem no Reino Unido fazem, voámos para Lisboa, não na TAP, que cancela tudo, logo por ela também não renovávamos o passaporte, para ir à loja do cidadão mais perto do aeroporto, a de Marvila (parabéns aos funcionários públicos de Marvila, que felizmente ainda trabalham por iniciativa própria, apesar de o governo não os incentivar nem recompensar diferentemente pela produtividade). No mesmo dia, 27 de Dezembro de 2021, solicitámos a renovação e obtivemos o passaporte que em Londres nem em meses ou anos a fios conseguiríamos renovar.

Terminamos este testemunho sobre campeões nacionais de cancelamentos e adiamentos com outra citação de O’Leary; não a de o dinheiro dos impostos dos portugueses gasto na TAP (ou, acrescentamos nós, no consulado de Londres) é dinheiro deitado pela sanita abaixo porque é demasiado óbvia, mas aquela em que o CEO da Ryanair, sempre irreverente, afirmou quando olhamos para o número de pessoas estúpidas que são bem sucedidas em negócios, vemos que não é preciso ser muito inteligente. Um bom negócio limita-se a aumentar as vendas (para os clientes), mantendo os custos baixos e a diferença entre esses dois componentes é o lucro. Parece que em Portugal a TAP e o Consulado de Londres são geridos por chefias inteligentíssimas que, ao invés disso, diminuem ou afugentam o número de clientes e utentes que deveriam servir, enquanto aumentam os nossos custos para proveito próprio. A diferença entre esses dois componentes representa a degeneração da economia e democracia portuguesa. Em Portugal promove-se uma cultura de cunha e favorecimento socialista, completamente avessa à meritocracia e produtividade, desligada da apresentação de resultados, que não serve as necessidades dos milhões de cidadãos que tudo financiam com os seus crescentes impostos e taxas.