Hoje recordo a minha adolescência, nos anos 80 , na altura os vícios dos jovens eram o álcool e o tabaco.
Na altura o álcool fazia parte da alimentação dos mais pobres, existiam crianças que ao pequeno almoço ingeriam sopas de vinho
Em 1977, foi lançada em Portugal a Campanha de Educação Alimentar, “ Saber comer é saber viver” , foi criada a roda dos alimentos, uma representação geométrica e gráfica que ajudava a escolher e combinar os alimentos que deveriam fazer parte da alimentação diária.
Em 1978, as crianças bebiam leite fornecido pelo Estado, nos intervalos das aulas, o Curso de Nutricionismo tinha sido criado dois anos antes na Universidade do Porto
No final dos anos 80, contaram-me a seguinte história: um nutricionista foi fazer uma palestra para a zona do Tâmega sobre a importância da ingestão do leite. No fim, um agricultor disse ao nutricionista: “Doutor, o meu filho é um homem, não bebe leite”.
Desde esse tempo, já passaram mais de 30 anos.
Na altura, em Portugal existia um problema de saúde pública, o alcoolismo. Existiam de Norte a Sul centros de tratamento e prevenção. Os governos na altura souberam legislar. O que o decreto-lei n.º 106/2015, publicado 16 de Junho, regulamentou que a partir dessa data estaria proibida a venda e comercialização de todo o tipo de álcool a menores de 18 anos, o que, na prática, passaria a englobar também o vinho e a cerveja
Se as crianças e jovens não podem beber e fumar, porque é que crianças de dois anos podem estar com o telemóvel? Ou crianças de 5 anos, que vão agarradas ao telemóvel nos transportes?
No dia 18 de Setembro a Direção-Geral da Educação divulgou um artigo de evidência científica da autoria da Professora Doutora Ivone Patrão sobre o uso dos telemóveis no espaço escolar. O artigo pretende sintetizar a revisão da literatura sobre o impacto do uso dos telemóveis em crianças e jovens (6-18 anos). Apresentam-se os impactos ao nível da saúde mental, na socialização e orientações práticas para a gestão saudável do uso do telemóvel no contexto escolar.
Já foram realizados muitos estudos sobre o uso excessivo de telemóveis e o seu impacto em crianças e adolescentes, e em muitos países da União Europeia foi restringido o uso do telemóvel em contexto escolar. Os Médicos Pediatras, e Psicólogos têm identificado sinais e sintomas na saúde física, mental e social originados pelo uso excessivo da tecnologia, a saber:
Ansiedade, depressão e isolamento social são comuns.
Redução da atividade física e aumento da obesidade
Dificuldades de concentração e problemas de resolução de problemas
Comportamentos agressivos: A exposição a conteúdos inadequados como pornografia, vídeos com conteúdos violentos, podem influenciar comportamentos abusivos.
Dependência e vício: O uso excessivo pode levar a comportamentos aditivos.
Estes estudos destacam a importância de limitar e supervisionar o uso de telemóveis, e limitar em idade precoce.
Como mãe, tive sempre a preocupação de afastar os meus filhos da televisão, do computador e do telemóvel até aos 12 anos. Por vezes a roupa não era passada era só dobrada, não ia para o centros comerciais, mas eu frequentava todos os parques infantis e locais ao ar livre da zona que resido. Hoje não me arrependo da roupa que não passei, ou do tempo que não perdi a passear nos centros comerciais.
Li uma notícia do Jornal Público: “Proibir telemóveis nas escolas? Deputados querem estudar melhor antes de decidir”. O Parlamento debateu, esta quinta-feira, a proibição do uso de telemóveis nas escolas. A maioria dos partidos quer estudar melhor o tema e esperar pelos resultados da recomendação do Governo.”
Como Professora considero que, se os Políticos têm medo de regulamentar , os Diretores da Escolas também analisam a recomendação, eu na sala de aula pouco posso fazer, a não ser comunicar: O aluno faz uso pessoal do telemóvel durante a aula.
Em conclusão, se não existir proteção aos mais novos teremos uma geração viciada e um custo para a saúde pública nos próximos 10 anos. Quem compra os telemóveis às crianças e jovens são os Encarregados de Educação e no fim são os Professores que têm de limitar o seu uso. Esta questão, põe em causa a relação pedagógica e tem impacto no ambiente de sala de aula.