Ninguém neste mundo é uma peça isolada. Somos parte de um todo, onde cada um tem um lugar, uma função, e sobretudo um conjunto de relações com os outros, que une a humanidade inteira. Partilhamos a condição de ser humano, uma História, um presente e um futuro comuns. E todos temos um papel a desempenhar nesta História, um contributo para o bem comum: ninguém está a mais.

Também recebemos muito dos outros. Dos nossos pais, evidentemente; mas também dos outros parentes e conhecidos, da sociedade e do País. Através dos nossos antepassados, recebemos uma cultura e tudo o que existe à nossa volta: casas, estradas, etc.

Por vezes o que recebemos dos outros não é positivo. Outras vezes devíamos ter recebido algo que não chegou a concretizar-se. E ressentimo-nos. Essas ocasiões têm de nos recordar que quando falta a nossa contribuição para o bem comum (ou pior, quando ela é negativa), os outros ressentem-se.

Ninguém está dispensado de pôr o ombro, ninguém pode dizer que não tem nada para dar. É um dever nosso e uma necessidade para os outros.

Todos fazem falta. Isso parece evidente para os que são sãos, com uma boa formação profissional, activos; mas e os outros?

Que dizer de um tetraplégico, ou de alguém em coma ou com deficiências profundas? Ou de um drogado sem abrigo, a arrastar-se pela vida? A contribuição desses é ajudar-nos a tornarmo-nos mais humanos. Ao cuidar deles, ao não os descartar como inúteis ou como estorvos, ao ter compaixão, crescemos imensamente como seres humanos.

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Quando falamos no contributo que temos de dar para a sociedade da qual fazemos parte, não nos referimos apenas a coisas materiais, como o fruto do nosso trabalho. A fábrica da sociedade não se reduz ao que vemos e ouvimos, mas inclui as relações que nos unem, os afectos que oferecemos e o que somos. Isto não é algo teórico, tem manifestações muito práticas. A primeira é que mesmo a vida mais desgraçada tem um sentido e uma função, e nada justifica acabar com ela.

As pessoas próximas devem, pela sua dedicação e carinho mostrar-lhes que são amadas e queridas por si mesmas, independentemente da sua situação pessoal, e que mesmo que não possam fazer mais nada, o ser objecto desse cuidado e carinho é algo que enriquece humanamente as pessoas que a tratam. Essa humanidade é essencial para a sociedade, muito mais relevante do que a energia eléctrica, por exemplo.

Outra manifestação prática é que os futuros membros da sociedade também terão a sua aportação na construção da sociedade humana: seria terrível dizer que são ‘indesejáveis’, e descartá-los. Eles têm um lugar, um papel insubstituível, como todos os outros. Às vezes custa aos que estão próximos, é verdade: mas o que vale a pena custa sempre, e cada ser humano vale muito a pena. E essa aceitação do ‘imprevisto’ tornará grande, verdadeiramente humana, a pessoa que aceita esse seu novo objecto de amor.

É claro que a frieza dos serviço estatais dificilmente poderá dispensar este sentido de humanidade, e muito menos o carinho que as pessoas debilitadas precisam. Por isso são essenciais na sociedade os grupos de voluntários, as instituições de solidariedade, que devem ser promovidos e ajudados. O grau de actividade deste tipo de instituições é uma medida de humanidade na sociedade.

Criar a consciência de que todos são úteis e de que quando damos do nosso para ajudar o próximo crescemos nas várias dimensões do nosso ser e em humanidade, é essencial para o avanço da sociedade.