Ultimamente passamos a vida a fingir. Fingimos que, em Portugal a Covid19 é muito grave, quando o número de doentes internados em enfermarias e em Unidades de Cuidados Intensivos, mesmo após o desconfinamento, é muito mais baixo do que antes do mesmo.

Fingimos que, em Portugal, a Covid19 é mais grave que a gripe, quando esta, na época de 2018/2019 matou 3331 pessoas, na época de 2017/2018 matou 3700 e a Covid19, em cerca de 3 meses, matou à volta de 1350. Só na semana de 21 a 27 de janeiro de 2019 foram internadas 23 pessoas em UCI por gripe. Para se ter uma ideia, numa única semana de janeiro de 2015 foram realizadas cerca de 18.000 consultas por síndrome gripal em Portugal (e não sabemos quantos assintomáticos é que também testariam positivo para o vírus da gripe, se tais testes fossem tão generalizados como os para o SARS-CoV-2)

Fingimos que o nosso país é o máximo, porque é o 6º país do mundo que mais testa, ocultando o disparate de dinheiro que se gasta com os testes, que se estão a testar um sem número de pessoas assintomáticas, sem doença, em quem a utilidade do teste é francamente questionável, criando problemas enormes às empresas e famílias dessas pessoas, bem como aos médicos de saúde pública que se encontram completamente exaustos com o seguimento de tanta gente com doença ligeira ou até sem sintomas.

Fingimos que o verdadeiro motivo pelo qual se fechou o país em março não foi a doença Covid19 grave (que continua a diminuir) mas toda e qualquer doença Covid19, enquanto esta existir, mesmo que assintomática ou causando apenas tosse. E que tal justifica que nada possa voltar a funcionar como dantes.

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Fingimos que só há mortes e mais mortes e mais mortes por Covid19 porque a comunicação social, criminosamente manipuladora, das cercas de duas centenas de países que somos afetados pela doença, só fala da meia dúzia que está pior, ignorando propositadamente aqueles em que a pandemia (incluindo o nosso) não é calamidade nenhuma e calando todas as mortes que há por outras causas.

Fingimos que os profissionais de saúde não estão exaustos, ao lhes serem exigidas muito mais horas de trabalho do que o habitual, como se não fossem pessoas, como se não houvesse amanhã.

Fingimos que continuar com estabelecimentos comerciais encerrados, que já se encontram fechados desde março, em nome da doença em jovens assintomáticos ou com tosse, é um motivo válido e não faz mal, porque a perda de rendimento dos patrões e empregados desses estabelecimentos não tem importância, a possibilidade de despedimento é irrelevante, o desespero dessas pessoas não interessa a ninguém.

Fingimos que a calamidade Covid19, injustificada em Portugal, é superior à calamidade económica que se vive, completamente ocultada, essa sim, cada vez mais grave e sem perspetiva de melhoria.

Fingimos que não há calamidade social, quando há idosos e crianças institucionalizadas, sem visitas durante meses, doentes internados em hospitais sem verem um familiar e a morrerem sozinhos, aumento da violência doméstica, ausência de eventos familiares, como casamentos, ausência de prática desportiva de alta competição, ausência de avós a abraçarem os netos, ausência de liberdade para vivermos a nossa vida.

Fingimos que os nossos filhos têm aulas, quando se sentam à frente de ecrãs de computador ou de televisão e que, essas aulas são tão boas ou melhores que as presenciais.

Fingimos que as crianças e jovens não têm de brincar e conviver para crescerem saudáveis e felizes. Fingimos que não é pelos professores que elas não têm aulas na sua escola.

Fingimos que os motoristas de transportes públicos, os profissionais de saúde, os operadores de caixa de supermercados, entre outros, não têm que lidar com muitas pessoas em locais fechados, todo o dia e que têm que trabalhar, se querem ter o seu ordenado ao fim do mês, mas que os professores não podem dar aulas com normalidade.

Fingimos que as normas que a DGS preconiza, umas atrás das outras, à velocidade da luz, são para nosso bem e não impedem o normal funcionamento de toda a sociedade, favorecendo o aumento de despedimentos no comércio, restaurantes, hotéis e afins.

Fingimos que a doença que estamos a criar com tantas medidas, é menor que a suposta calamidade causada pelo Covid19.

Fingimos que usar máscara de forma obrigatória, em tudo o que é local fechado, cuja eficácia não está comprovada em pessoas assintomáticas e que nos obriga a andar com máscaras na carteira ou nos bolsos, que depois de forma recorrente colocamos e retiramos da cara, não é uma porcaria.

Fingimos que só se morre com Covid19 quando ontem, em Portugal, morreram 13 pessoas com Covid19 e 276 de outras causas.

Fingimos que, em todas as outras enfermidades, não são os nossos velhinhos que mais morrem.

Fingimos que desapareceram todas as outras doenças, tendo havido hospitais que destruíram paredes e serviços para criarem enfermarias para os doentes com Covid19, enfermarias essas  que permaneceram e permanecem praticamente ou totalmente vazias e hospitais esses que agora não têm onde realizar colonoscopias, endoscopias, broncoscopias porque arruinaram os locais onde esses exames se realizavam. Fingimos que deixaram de existir cancro do cólon, cancro do estômago, do esófago e do pulmão.

Fingimos que a fisioterapia não faz falta aos doentes com AVC para poderem fazer a sua reabilitação.

Fingimos que estamos a ser protegidos, quando mais não estamos que a ser destruídos. Destruídos fisicamente por todas as doenças que não foram diagnosticadas ou tratadas atempadamente, destruídos psicologicamente pela calamidade da doença mental que se instalou em tantos indivíduos, previamente sãos e que nunca mais vão voltar a ser os mesmos, pelo terror que criaram (e que lhes foi criado) à doença. Destruídos economicamente pelos milhares de empregos que já deixaram e vão continuar a deixar de existir. Destruídos socialmente, por olharmos, uns para os outros como potenciais ameaças, potenciais inimigos. Destruídos pelos milhares de regras completamente desadequadas à nossa essência e à nossa humanidade.

Com tanto fingimento que se tornou rotina, o meu maior receio é que, ao nos terem lançado tanta areia para os olhos, quando os tentarmos abrir, já não consigamos ver nada, porque nos cegaram.