Parece bastante plausível que a Rússia tenha acabado de atacar uma das principais redes de comunicações de um Estado-membro da NATO chamado Portugal, paralizando-o parcialmente.

Conforme os media, o Centro Nacional de Ciberseguranca, a Polícia Judiciária e o Serviço de Informações de Segurança foram prontamente mobilizados, encontrando-se já em campo para nos proteger.

O país enfrenta portanto este provável acto de guerra com uma quase inútil repartição burocrática (CNCS), uma simples polícia de investigação criminal (PJ) e uma esfíngica e inescrutável caixa de correio estrangeiro (SIS). No entanto as Forças Armadas, a principal instituição de defesa nacional, foram aparentemente secundarizadas, se não mesmo postas de lado.

Karl Von Clausewitz , general prussiano e grande teórico da estratégia militar, escreveu famosamente no volumoso ‘Vom Kriege’ que “a guerra é apenas a continuação da política com a combinação de outros meios”.

Neste jardim à beira-mar onde florescem juristas tudo se reconduz porém ao crime. Tenaz e provincial, prevalece uma visão acentuadamente penalista das grandes ameaças, tanto nos responsáveis políticos como nas principais instituições de segurança e até na maioria dos alegados especialistas do comentário público. A captura do Estado por interesses externos (cleptocratas angolanos ou organizações de frente e agentes do governo chinês, por exemplo), o fenómeno global terrorista e mesmo os ataques ciber contra infraestruturas críticas nacionais ocorridos no quadro das tensões Rússia/NATO (podendo significar a etapa inicial e não-convencional de um vasto conflito político-militar) são quase sempre reduzidos a casos criminais e de polícia. Com o grave inconveniente de se perder de vista o respectivo alcance estratégico, bem como as implicações futuras e a necessidade de respostas estruturais.

O problema talvez se deva sobretudo ao facto de na sebenta de certa intelligentsia lusa (uma coterie de causídicos rábulas) e de grande parte da nossa alegada elite político-administrativa (vasto tropel de juristas rústicos) o clássico axioma clausewitziano se encontrar transliterado: a guerra e a política são apenas a continuação do crime e da ancestral marosca por outros meios.

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