A que terra foi parar? Budapeste. Foi a capital da Hungria, a resposta à tradicional cantilena para tirar coisas à sorte. Cantilena a que a Força Aérea Portuguesa recorreu para seleccionar, completamente ao acaso, o local onde, a caminho da Moldávia, o avião Falcon transportando o primeiro-ministro faria uma escala técnica.

Escala técnica que, para quem não está tão a par da política portuguesa, significa “escala sem qualquer justificação técnica, usada como desavergonhado pretexto para uma paragem por mero capricho, quando a aeronave tinha autonomia mais que suficiente para chegar ao destino.”

Sendo que, num contexto mais abrangente, a expressão “escala técnica” tem, como seria de esperar, um significado menos rebuscado. Nessas circunstâncias, por “escala técnica” entende-se uma “paragem de um meio de transporte para abastecimento, para reparação, ou para o Costa ir ver um jogo da bola a contar para a Liga Europa.” São procedimentos básicos, com os quais todos estamos familiarizados, que diabo.

Não, agora a sério. O avião que transportava António Costa teve mesmo de parar em Budapeste. Mesmo. Não havia outra hipótese. Era isso, ou o primeiro-ministro corria risco de vida. Porque, soube-se entretanto, a UEFA confirmou ter convidado oficialmente Costa para estar na final da Liga Europa. E se a UEFA convidou… Bom, longe de mim sequer insinuar que a UEFA seja tipo a máfia. Mas há quem chegue a insinuar que a UEFA é tipo a máfia. E, como toda a gente sabe, convites da máfia não se recusam. Nem convites da UEFA. Que ninguém quer correr o risco de acordar com uma cabeça de fiscal de linha na cama.

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Portanto, António Costa não teve mesmo outra chance. Ele bem que tentou argumentar com o mafios… perdão, com o indivíduo lá da UEFA:

Costa: Meu caro Alfredini, não posso mesmo parar em Budapeste. Como é que eu ia justificar aos portugueses esbanjar dinheiro do erário público para ir ver um qualquer jogo da bola que nem sequer envolve equipas portuguesas?

Há uma pausa. Costa e Alfredini da UEFA entreolham-se. Nisto, rebentam de riso.

Costa e Alfredini da UEFA: Ah, ah, ah! Ah, ah, ah!

Alfredini da UEFA: Essa foi muito boa, António!

Costa: Foi, não foi? Também achei. Conta comigo em Budapeste, pá. Ao lado do Orbán e tudo. Até porque não quero acordar com uma cabeça de fiscal de linha na cama! Ah, ah, ah!

Alfredini da UEFA: Não é fiscal de linha que se diz, António. É árbitro assistente.

No meio disto tudo, e tendo em conta que o avião que transportou António Costa – que é suposto ser funcionário de todos nós – é propriedade de Força Aérea Portuguesa – e é portanto, também ele, pago por todos nós –, convinha escutar o que o mais alto magistrado da Nação e o Comandante Supremo das Forças Armadas tem a dizer sobre este assunto. Infelizmente, essas duas pessoas são apenas uma pessoa. E infelizmente essa uma pessoa é Marcelo Rebelo de Sousa.

E infelizmente Marcelo Rebelo de Sousa é apenas Presidente da República. Ou seja, perante atitudes do primeiro-ministro a roçar as de um vulgar tiranete centro-africano, o chefe de Estado mais não podia do que, antes do visionamento do electrizante Portugal-Bósnia e Herzegovina, lamentar que a presença do líder do governo na final da Liga Europa não tenha evitado a derrota da equipa de José Mourinho. Mas isto só após lamentar António Costa ter ido para Budapeste de Falcon, que leva bem algumas 12 pessoas, e nem sequer o ter convidado. Mas quê, não havia mais lugares? E então? Qual era o problema? Marcelo ia ao colo de Costa. Até aproveitavam para alternar um bocadinho em relação ao que têm sido os últimos sete anos.