No último debate a 8 para as europeias, Sebastião Bugalho salientou que os eurodeputados do PSD e do CDS “votaram contra os aumentos das taxas de juro do BCE” (7m54s). Tanto as afirmações como o momento em que estas foram preferidas são cruciais. E são-no por duas razões. Primeiro, porque as pressões inflacionistas continuam a fazer-se sentir devido às medidas proteccionistas e ao excesso de crédito das últimas décadas, com especial relevância nos últimos anos. Segundo, porque revelam pouca memória. Eu era adolescente, mas recordo-me bem (e é Luís Montenegro quem deseja que 1987 seja um ano de referência) da dificuldade que foi conseguir uma inflação abaixo dos dois dígitos. A meta dos 9% (anunciada na altura nas primeiras páginas dos jornais) não significou apenas uma redução do contínuo aumento dos preços; foi uma vitória psicológica, um feito que, uma vez ultrapassado, permitiu os níveis de inflação aceitáveis que nos acompanharam durante décadas. Acredito que muitos no PSD não se recordem do que sucedeu nessa altura, mas também tenho a certeza que uma breve conversa com Cavaco Silva será suficiente para que o cabeça-de-lista da AD, bem como os eurodeputados do PSD e do CDS não se envaideçam com a ligeireza com que criticaram as medidas do BCE embora, em abono da verdade e contrariamente ao que referiu Bugalho, não tenham votado contra, mas tão-só abstido na votação da proposta do PPE que apelava ao BCE para que mantivesse a posição de aumentar as taxas de juro enquanto as suas previsões relativas à inflação não se alterassem.

O que houve foi falta de firmeza. Por isso é tão importante salientar o seguinte: votar contra os aumentos das taxas de juro do BCE não significa estar ao lados dos Portugueses (como erradamente afirmou Sebastião Bugalho), pois os Portugueses são dos que mais sofreram e mais sofrem com uma inflação elevada. Esta ideia de que uma política monetária e orçamental rigorosa prejudica os Portugueses (como o candidato da AD sugeriu no último debate) é algo que julguei ter sido devidamente ultrapassado com a crise de 2011-2015. Infelizmente, parece que não. Por um lado é uma pena. Por outro, e porque a pressão não é apenas inflacionista, mas também de falta de referências, o alerta não pode deixar de ser dado.

Antes de continuar no outro tema que considero essencial nestas eleições, cabe-me salientar que a minha crítica às declarações do candidato da AD seriam exactamente iguais caso eu não fosse membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal. No entanto, por uma questão de seriedade, menciono aqui que o sou para que quem lê estas linhas tenha em conta toda a informação necessária e tire as suas conclusões. A independência do BCE é indispensável à estabilidade monetária, que é essencial ao controlo dos preços, tal como a redução da dívida pública (mesmo a nominal e não só a equiparada ao PIB) é absolutamente necessária para o crescimento sustentado do país e a melhoria de vida dos cidadãos. Este é um daqueles pontos em que não podemos transigir, sob pena de nos envergonharmos do futuro que vamos deixar aos nossos filhos.

O outro ponto essencial nestas eleições europeias é o de saber até onde deve ir o apoio de Portugal à Ucrânia. Deve o nosso compromisso ser incondicional? A paz é negociável ou não? E se sim, qual o melhor momento para o fazer? Até à presente data é comummente aceite que a resposta a qualquer destas questões deve vir da Ucrânia. É a sua soberania que está em jogo, são os ucranianos quem estão na linha da frente da guerra, logo serão eles quem tem a legitimidade para decidir se e quando é o momento apropriado para negociar.

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O prolongamento dos combates, o entrincheiramento da guerra, mais a possibilidade de Trump ser eleito em Novembro leva a que se questione se não seria melhor negociar o quanto antes. Se não seria preferível reconhecer a situação de bloqueio a que o conflito chegou, negociar o reconhecimento da ocupação russa de parte da bacia do Donetsk, integrar a Ucrânia na NATO, na UE e fazer aplicar no país um novo plano Marshall que, a breve trecho, evidenciaria a diferença positiva que é fazer parte do Ocidente.

À partida a solução parece simples, barata e pronta a dar milhões. O problema está nos pormenores. Primeiro, o Donetsk não é a única reivindicação de Moscovo nem o único foco de conflito na Europa. Putin pretende controlar o mar Báltico, quer dominar a Transnístria e deseja recuperar a totalidade da margem norte do Mar Negro, algo que a Turquia não vê com bons olhos. Além disso, Putin tem todo o interesse em incentivar as pretensões da extrema-direita húngara e romena sobre certas parcelas do território ucraniano. Ou seja, a entrega do Donetsk a Moscovo não aplaca Putin, mas dá-lhe ainda mais força. Ainda mais razões para continuar. Ou seja, não é só a Ucrânia que está em jogo numa guerra distante. É o nosso modo de vida que se encontra em causa num conflito militar que facilmente pode bater à nossa porta.

É esta perspectiva mais alargada do conflito que torna evidente que a única solução possível é sermos firmes no apoio à Ucrânia contra Moscovo. Pode custar dinheiro, recursos, inflação, menos crescimento económico, mas a alternativa é muito pior. Não só porque as consequências serão catastróficas, mas até porque o custo dessa paz com Moscovo será mais dispendioso e difícil que a entrega de munições e material de guerra à Ucrânia. Uma coisa é certa: atravessamos um daqueles momentos que definem a história. A que determina como será a vida dos nossos filhos e netos. E é esta consciência muita concreta que devemos ter bem presente quando cada um de nós votar no dia 9.