Na atual Rússia, existem 21 repúblicas nacionais e mais de 100 povos autóctones. Ao contrário do que propala a propaganda russa, com as falsificações históricas a que é tão atreita, Moscovo não tem ligação com a Rus, cuja capital era Kiev. É isso que se encontra documentado nas fontes históricas desde o século IX. A história da Rússia não começa em Kiev, mas sim no principado de Moscovo, fundado por Daniil, filho de Alexander Nevsky, no século XIII, por ordem do cã da Horda Dourada, Mengü-Timur. Na prática, o príncipe de Moscovo tinha a tarefa de recolher tributos e saquear os seus vizinhos ao serviço (e para proveito) do grande Cã.

Ao longo de sua história, Moscovo conseguiu subjugar muitos povos e etnias, cuja existência é pouco conhecida devido à constante falsificação dos historiadores russos e à censura oficial de Moscovo.

Os movimentos que pugnaram pela libertação desses povos dentro da Rússia têm histórias, motivações, extensões e potenciais diversos. O colapso da URSS, em 1991, foi uma grande oportunidade para sacudir o jugo moscovita. Mas, infelizmente, nem todos os povos o conseguiram. Moscovo arranjou maneira de reprimir os levantamentos pela independência, usando métodos coercivos. Alguns desses povos obtiveram o estatuto de repúblicas dentro da Federação Russa. Mas outros nem isso: não foram politicamente reconhecidos e sua existência é negada pela propaganda russa.

A heroica resistência dos ucranianos contra a agressão em larga escala, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, criou uma nova oportunidade para esses povos.

A um custo muito elevado, os ucranianos provaram que é possível deter o império russo. Já hoje, membros de muitos povos da federação russa  estão a lutar no exército ucraniano. Pois veem na vitória da Ucrânia o caminho para a conquista de sua própria independência.

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Portanto, quem são esses movimentos nacionais mais consolidados e visíveis?

Eles podem ser agrupados, geograficamente, no Cáucaso Norte, Idel-Ural e nas repúblicas de Yakutia, Buryatia, Tuva e Kalmykia.

Muitos analistas apontam o Cáucaso Norte como um candidato a ser o primeiro a sair da Federação Russa. O cientista político, historiador e especialista em povos oprimidos da Rússia, Pavel Podobed, afirma que cada república do Cáucaso Norte merece um artigo separado. Pois só em Dagestan vivem 12 povos autóctones e é lá que se regista a mais poderosa resistência à política russa.

O Idel-Ural engloba a região Volga-Ural, abrangendo as repúblicas fino-úgricas e turcas de Tatarstan, Bashkortostan, Chuvashia, Mordovia, Udmurtia e Mari El. Há um movimento cívico, fundado na Ucrânia e chamado “Idel-Ural Livre”, que luta pela independência dessas repúblicas.

Também há notícia de significativas tensões anti-russas em Tatarstan – em 1992, os tártaros proclamaram a soberania do estado, apoiada pela maioria da população, consultada em referendo. Apesar disso, Tatarstan foi incorporado na Federação Russa em 2000.

Em Bashkortostan opera a organização bashkir, chamada “Bashkort”, proibida na Rússia. Em setembro de 2022, começou a formar-se um movimento de resistência armada na república. Esse movimento conta com milhares de adeptos, que incendiaram uma sede do Partido Comunista e um quartel, exigindo a independência da república.

Na região do Idel-Ural, vivem outros povos autóctones, como os Bashkires, Chuvashes, Mari, Udmurts e os chamados “Mordvinos” (Erzya e Moksha).

Os Erzya são um povo fino-úgrico que habita a bacia dos rios Moksha e Sura, além do Volga e do Oka. Os Moksha são um povo fino-úgrico, nativo do Médio Volga.

Os líderes dos movimentos nacionais Erzya e Moksha refutam as afirmações do governo russo, segundo as quais formariam um único povo chamado “Mordóvia”. Eles consideram essa palavra um epíteto ofensivo imposto pelos conquistadores de Moscovo. Além disso, de acordo com pesquisas genéticas, os dois grupos étnicos, Erzya e Moksha, não têm origens comuns. De maneira que a existência de um único “povo mordoviano” não passa de uma pura ficção.

A população dessas repúblicas forma, hoje em dia, nações separadas com líderes intelectuais modernos, que as concebem num sistema de coordenadas separado de Moscovo, afirma Pavel Podobed. Buryats e Calmucos têm intelectuais (científicos e religiosos) próprios, com fortes laços culturais com a Mongólia.

O Congresso do Povo de Oirat-Kalmyk, apesar das prisões e intimidações do Federal Security Service of the Russian Federation (FSB), declarou, em outubro de 2022, a independência da República da Calmúquia. Mais de 200 delegados do Congresso, representando uma parte significativa da pequena república, condenaram a invasão da Rússia na Ucrânia e apoiaram as Forças Armadas da Ucrânia. Atualmente, a maioria deles está no exílio.

E o “Batalhão Siberiano” cresce cada vez mais. Trata-se de uma unidade das Forças Armadas da Ucrânia composta por representantes dos povos indígenas da Federação Russa.

Além disso, há Bielorrussos a lutar nas fileiras das Forças Armadas da Ucrânia. Procuram, por essa forma, a sua libertação do ditador Lukashenko.

Na verdade, o fracasso do plano de Putin, que pretendia conquistar a Ucrânia em três dias, acabou por desencadear ou galvanizar o processo de luta dos povos oprimidos por Moscovo, que anseiam pela sua independência.

Isto representa a verdadeira restauração da justiça histórica e o desenvolvimento de uma nova ordem democrática mundial, baseada no direito de cada povo à autodeterminação.

Assim, desejo a todos os povos oprimidos que consigam conquistar a sua independência em 2024 – e também que as sociedades dos países da UE se libertem do medo e da propaganda dos regimes terroristas.