Em junho de 2019 os deputados dos parlamentos nacionais (incluindo alguns de Portugal) votaram a favor do regresso da Rússia ao Conselho da Europa, depois de ter sido excluída devido à anexação da Crimeia.

Não, a Rússia não se retirou da Crimeia, não deixou de fornecer armas e soldados às repúblicas autoproclamados de Donetsk e Lugansk, não respondeu ao caso do incidente com o voo MH-17 que vitimou 300 passageiros, não deixou de ser responsável pela morte de 14 mil ucranianos. Nada disso! A decisão dos deputados europeus de reintegrar a Rússia no seu conselho foi com a intenção de retomar o diálogo com esta de modo a proteger os direitos humanos deste país. O resultado desta decisão foi a prisão do líder da oposição russo Aleixei Navalny e dezenas de outros defensores da liberdade na Rússia. Neste momento o tribunal supremo russo está a tentar proibir a organização de defesa dos direitos humanos “Memorial”, mundialmente conhecida, de trabalhar no país. Esta proibição deve-se ao facto de esta associação ter descoberto, quando caiu a União Soviética, documentos que confirmaram os crimes contra a humanidade cometidos pelo regime comunista. Os próprios comunistas na Rússia estão já contra Putin por causa da perseguição de todos os que não concordam com o regime.

A decisão dos deputados da UE piorou ainda mais a situação dos direitos humanos na Rússia. Mas não só! A Ucrânia mudou de presidente: Putin considerava o anterior fascista e anti-russo mas este novo, apesar de começar a procurar o diálogo pacífico com Moscovo, passado pouco tempo também se tornou “nacionalista” ucraniano que só pensa em atacar as fronteiras com a Rússia.

Neste momento, quando os cidadãos da Europa se preparam para festejar o Natal, os ucranianos vivem com ameaças reais do Kremlin de atacar a Ucrânia com 100 mil soldados russos que estão junto à fronteira. A razão oficial do Putin para estas novas ameaças é que a Rússia não pode permitir a aproximação da Ucrânia à NATO, porque é o seu principal inimigo, tal como aconteceu na altura da União Soviética. A verdadeira ameaça para o regime do Putin são os estados democráticos que dão exemplo aos russos de alternativa ao regime em que vivem. A resposta da União Europeia, mais uma vez, a estas ameaças serão as negociações políticas, diálogos entre os altos cargos e a coerção à Ucrânia para aceitar os termos de Putin em troca de paz, o que na realidade vai significar para os ucranianos a perda da independência e viver em condições iguais às da Rússia e Bielorussia.

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Em 2014 uma centena de cidadãos desarmados ucranianos deram a sua vida no Maidan, em Kiev, por uma Ucrânia democrática europeia. No início desta revolução a primeira vítima do regime prorusso do presidente Yanukovich foi o bielorusso Mychailo Gyznievski, que morreu baleado nas barricadas de Kiev. Ele lutou pela Ucrânia e pela Bielorrússia. Desde 2014, quando a Rússia atacou a Ucrânia, milhares de ucranianos já passaram pela guerra estando preparados e motivados para continuar a defender a sua pátria. Eles não têm medo da armada russa.

Agora chegou a altura em que Putin pergunta aos europeus: estão prontos para defender os seus valores da democracia? Estão preparados para defender a União Europeia?

Tentativas diretas de testar a UE já começaram na fronteira da Bielorrússia com a Polónia. Putin é mestre em criar confusões e aproveitar as fraquezas para fazer ataques traiçoeiros. As conversas diplomáticas não o vão fazer parar, até pelo contrário, só darão mais força à sua crença de que está a fazer tudo certo. Os actuais governantes da Rússia são de outra civilização, onde tudo funciona somente através da força da autoridade. Neste momento a Europa têm de utilizar a mesma linguagem de Putin porque é a única que ele entende.