Foi com muita tristeza que muitos não puderam ir a Fátima neste dia de especial comemoração para os católicos portugueses. Foi impressionante ver a imagem de Nossa Senhora num Santuário de Fátima quase deserto, a lembrar a do Papa na Praça de São Pedro. Este dia é ainda especialmente triste porque completam-se hoje já longos 2 meses desde que a nossa Igreja tomou a decisão de suspender as missas públicas, renunciando assim a uma necessidade e a um dever, para salvaguardar a vida de todos.
Mesmo depois de já terem saído as orientações da CEP para a celebração do culto público católico, fonte e centro de toda a vida cristã, à partida ainda vamos ter que esperar até dia 30. Sem sacramentos, como lembrou um padre meu amigo, “a vida cristã enfraquece ou desaparece mesmo e … para combater os enormes problemas sociais resultantes desta pandemia… precisamos de gente certa do amor de Deus e alimentada pela Eucaristia”. Não é por acaso que os nossos vizinhos espanhóis já voltaram a celebrar missas com fiéis e até os italianos, devido ao inconformismo dos seus bispos, voltam no próximo dia 18, dia em que por cá poderemos intercalar visitas a museus com refeições em restaurantes.
O maior risco, para o qual alertou o Cardeal Sarah, é o de muitos fiéis se terem habituado a acompanhar a missa pela televisão ou internet e outros se terem simplesmente desabituado da missa. Os elogios justos de D. Manuel Clemente à criatividade que alguns padres revelaram nas novas formas de comunicação ao valor da comunhão espiritual e à redescoberta da igreja doméstica são, ao mesmo tempo, desafiantes pois alertam para a dificuldade que teremos no futuro. Não tenhamos a ingenuidade de pensar que vai ser fácil para muitos voltar a retomar a dimensão física do Catolicismo e terá que ser relembrado com insistência, como disse um amigo meu, que fomos salvos por um Deus de carne e osso, que encarnou e não apenas por um Deus “espiritual”.
Temo ainda que a Igreja, apesar dos generalizados elogios que recebeu de todos os quadrantes, tenha criado um mau precedente e perdido aqui uma oportunidade de reforçar a sua histórica liberdade e independência do poder político. Nunca é demais lembrar que não cabe ao Estado governar a Igreja fundada por Cristo e, com as necessárias cautelas, temos o direito de viver a nossa fé em liberdade como a defenderam tantos grandes como Santa Catarina de Sena e São João Paulo II.