1 A última semana foi dominada por uma daquelas histórias em que somos envolvidos e encaminhados para a indignação antes de termos tempo de pensar nas perguntas essenciais: Onde? Quando? Como? Porquê?
São perguntas obrigatórias para um jornalista desde o seu primeiro dia de estágio até ao fim da sua vida profissional. São as perguntas que qualquer um deve querer ver respondidas antes de formular qualquer juízo sobre os acontecimentos. Infelizmente são perguntas que se têm perdido na voragem do populismo que não chegou só à política, está também presente, e de que maneira, na nossa vida quotidiana.
O escândalo com o dito palco-altar tem uma história que deve ser contada para ser compreendida. Algures depois de tomar posse como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa teve uma ideia que o ajudaria a imortalizar a sua passagem pelo Palácio de Belém: convencer a igreja de Lisboa a candidatar-se à organização da Jornada Mundial da Juventude. Cauteloso, Dom Manuel Clemente disse ao Presidente que essa era uma empreitada gigantesca para a igreja de Lisboa. Marcelo não se deixou ficar e foi convencer António Costa e Fernando Medina desta oportunidade única de colocar Portugal e Lisboa no mapa. Vendida a ideia às autoridades públicas foi mais fácil convencer o Patriarca de Lisboa a avançar com a candidatura.
Nos anos seguintes, a Igreja e o Estado Português empenharam-se em inúmeros esforços diplomáticos para conseguir uma decisão do Vaticano. Na corrida estavam também as cidades de Praga e Estocolmo. Lisboa ganhou a corrida em 2019 e a partir desse momento comprometeu-se e organizar o evento. Um evento que implica ter capacidade de acolher, ao longo de uma semana, mais de um milhão de jovens vindos de todo o mundo.
Não foi o Vaticano que se impôs a Lisboa. Foi Lisboa que se ofereceu com um caderno de encargos ao Vaticano.
Tomada a decisão, os poderes públicos, e bem, empenharam-se em aproveitar a ocasião para fazer um investimento que se perpetuasse na cidade. Seria possível fazer a Jornada noutras áreas da Diocese de Lisboa, mas a opção dos poderes públicos foi a de requalificar uma zona que conquista novos espaços de qualidade para as cidades de Lisboa e de Loures.
É assim que se chega aos valores avultados que vão ser gastos na organização deste evento. Valores sempre muito inferiores ao retorno que a Jornada Mundial da Juventude sempre trouxe em todos os países em que se realizou (basta consultar as notícias).
Tendo em conta todo o contexto descrito atrás, percebe-se facilmente que a polémica dos últimos dias foi uma enorme cortina de fumo que só serviu para nos desviar a atenção do mau uso de dinheiros públicos, esses sim, deitados pela janela fora sem nenhum retorno para os contribuintes. Milhares de milhões de euros gastos irresponsavelmente pelos decisores políticos.
2 A TAP vai custar aos portugueses, até 2024, 3,7 mil milhões de Euros. Os portugueses têm de pagar esta brutalidade de dinheiro porque um ministro, que já teve de sair do Governo por indecente e má figura, pôs o seu capricho de arrivista de esquerda à frente do interesse público e decidiu renacionalizar a companhia que já tinha sido vendida a privados.
Com todos estes milhões enterrados na companhia, o Diário de Notícias contava em manchete no passado sábado que a TAP e a Easy Jet devem 260 milhões a passageiros. Tudo por causa de voos cancelados, atrasados e desvio de bagagens.
É apenas um indicador do desastre que é o serviço da companhia de bandeira que, noutros tempos, chegou a ser considerada uma das melhores do mundo. Hoje em dia viajar na TAP é um totoloto que normalmente corre mal. Ou o voo é cancelado, ou parte atrasado, ou, como ouvi nos últimos dias, transporta os passageiros sem bagagens e sem aviso prévio para poupar nas indemnizações. Quanto ao serviço que presta no interior do avião, pouco ou nada difere das chamadas Low Cost.
A juntar a tudo isto paga ordenados de luxo, prémios de luxo e indemnizações de luxo.
E agora pergunto eu: não era isto que devíamos estar a discutir? É para isto que queremos ter uma companhia de bandeira nas mãos do Estado? Alguém exige responsabilidades aos responsáveis por este gigantesco buraco financeiro que poderia ter sido evitado se os governantes responsáveis tivessem posto o interesse nacional à frente de caprichos ideológicos? Será normal um país pobre gastar assim 3,7 mil milhões de euros sem qualquer expetativa de retorno?
3 Tenho a impressão de que os próximos tempos vão ser ricos em historietas tipo altar-palco. É o último estertor da máquina de comunicação socialista a tentar distrair-nos do desastre que começa a estar à vista de décadas de poder socialista. Aconselho os leitores a duplicarem os esforços para perceberem de que se fala, antes de se indignarem com a primeira notícia que lhes é oferecida no noticiário matinal.