É do conhecimento geral que por esta altura do ano, o País entra num período de tréguas político-partidárias, vai tudo de férias (normalmente “a banhos”) e as notícias “quentinhas” sobre as usuais disputas partidárias, as “gafes” governamentais e outras coisas do género, são substituídas por imagens de governantes de calções ou biquíni, nas suas diversas versões, cores e tamanhos. E o povo sorri. Descontraído. Revendo-se, um pouco, na imagem transmitida pelos seus líderes.

A esse período do ano denomina-se, geralmente, por “silly season” ou temporada bacoca.

Mas este ano é fundamental registar uma curiosidade: atendendo ao comportamento de uns (governantes) e de outros (povo que assiste), estaremos, talvez pela primeira vez na história da democracia, a assistir a uma “silly season” que dura há cerca de 15 meses. Não há propriamente uma oposição digna dessa caracterização (ora não reagindo, ora apresentando propostas que não convencem ora apresentando outras que pouco ou nada diferem das do governo); as (numerosíssimas) “gafes” do Governo não surtem qualquer reação, nem nos partidos nem no povo; e as verdadeiras noticias ainda não são com fotografias de roupa reduzida mas são sobre a mistura bombástica (quase terrorista) de moscatel quente e fortimel e sobre um relatório acerca de um tema polémico que diz tudo menos o que realmente interessaria que dissesse. E o povo, descontraído, assiste e vai sorrindo, como pode…mantendo, segundo as sondagens, a confiança num governo que a ninguém agrada (que já não é, sequer, o mesmo que foi eleito, tão grande é o número e o ritmo de substituições forçadas) …

Ora isto deveria ser preocupante. Tanto o ritmo e o número de substituições de membros de governo (muitas por alegados crimes praticados!) como a falta de reação do povo, em aparente “silly season” há vários meses…

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Sobre a primeira situação, interessaria perceber se isto terá limite, ou se é como num qualquer jogo de futebol amigável, em que o número de substituições é ilimitado. Por outro lado, seria curioso analisar a prevalência de alegados criminosos nas hostes escolhidas para governar o País. Se no final de 2022 havia cerca de 12 000 reclusos nas cadeias portuguesas (o que perfaz cerca de 0.1 % da população portuguesa), no governo já foram “afastados” 13 dos seus 55 governantes iniciais. Mesmo que, efetivamente, nem todos o tenham sido por “contas com a justiça” (na verdade, não o foram todos), já saíram 24% dos governantes escolhidos por este primeiro-ministro… Ou tem um tremendo azar ou… uma enorme falta de jeito.

Quanto à (falta de) reação do povo, deveríamos olhar para isso com elevada preocupação. Não é normal que após tanta “gafe”, tantos casos, casinhos e casões, numa situação de degradação de muitas das condições de vida, para uma grande maioria dos portugueses, em áreas tão importantes com a Saúde, a Habitação, a Educação, etc., os mesmos continuem (segundo as sondagens) a optar por manter tudo como está…como se a governação do seu País de uma mera, mas arrastada, “silly season” se tratasse…

Desconfiarão das alternativas? Já não acreditam no sistema? Desistiram? Acham que está tudo “a banhos” o tempo todo e que só a cor do biquíni poderá suscitar algum interesse?

Independentemente do partido que, eventualmente, lucre com isto, não é saudável nem promissor para a democracia… Não podemos, enquanto nação, transformarmo-nos em seres politicamente “amorfos” e promovê-lo ou sustentá-lo é um atentado, a prazo, contra o sistema democrático.