Mês de julho. Não me ocorrem as férias que se aproximam, vêm-me antes à memória momentos que já vivi há uns anos atrás, iguais àqueles que muitos estão agora a viver: o fim do ensino secundário, os exames nacionais, a entrada para a faculdade e consequente entrada para a vida ativa.

Assim que terminei o 12º ano lembro-me que estava o mais perdida possível. Os motivos eram vários: os exames que iria realizar seriam determinantes para a minha entrada para a faculdade, a escolha do curso e a perceção de que sabia pouco de coisas úteis para a vida. A minha média era boa, tinha 18 anos, mas sentia que estava longe de ser uma adulta.

Por essa época, percebi que ao longo do ensino secundário adquiri conhecimentos nos currículos das diferentes disciplinas, incluindo “Formação Cívica”, atualmente designada “Cidadania e Desenvolvimento”. Porém pouco ou nada sabia de Artes, Ciência Política, Economia.

Inicialmente, pensei que o motivo seria o facto de ter frequentado uma área cujas disciplinas base eram Biologia, Matemática e Física e Química, mas rapidamente percebi que o problema não era da área frequentada, uma vez que os meus colegas que frequentavam a área de Humanidades também não detinham conhecimentos nessas matérias. A disciplina de “Formação Cívica” pouco ou nada acrescentava nestas áreas.

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Matérias como: saber calcular o IRS, impostos, a inflação, ou passar recibos verdes eram para mim um problema onde o teorema de Pitágoras não me ajudava e o conhecimento sobre atos ilocutórios ou complementos oblíquos era inócuo.

Felicitam-nos aos 18 anos, dizendo que já podemos votar, mas, na verdade, temos pouco de pensamento político, cidadania, organização social. Palidamente ouvimos falar da importância de um Estado republicano e não somos convidados a refletir sobre a importância de uma democracia partidária, por exemplo.

Culturalmente, em Portugal, o sistema de ensino e a escola não valorizam as artes, enquanto dimensão fundamental de uma formação humanista. Curiosamente, essa foi a questão colocada, no exame de Português aos alunos que agora terminaram o 12º ano e que foram convidados a refletir sobre: Mas será que o progresso implica também a valorização das artes, enquanto dimensão fundamental de uma formação de base humanista?

Vivemos num sistema de ensino que escrutina a entrada para a faculdade através de médias ponderadas entre as classificações das disciplinas obtidas ao longo de três anos e as classificações dos exames nacionais.

Hoje, enquanto jovem já formada, licenciada e mestre, sinto que este sistema de ensino deveria ser objeto de reflexão, porque avalia em demasia os conhecimentos, desvalorizando capacidades, competências, formação pessoal, social e relação interpessoal. O exemplo da média de entrada num curso de Medicina é por si bastante para perceber que a importância da formação dos jovens numa dimensão relacional, humanista e interpessoal não é tida em conta no processo de seleção, mas não é de todo exemplo único, porque para quem entra em cursos de áreas políticas ou humanistas também a seleção não contempla a sua formação humanista.

Em época de exames e de decisões futuras, questiono se as atividades extra curriculares como o voluntariado, os trabalhos em part time, o desporto, o teatro, a música, a pintura, o envolvimento e a participação em associações de estudantes, entre outras, em que tantos jovens participam, não deveriam ser tidas em conta no momento da seleção para a faculdade?

A escola de hoje forma os cidadãos de amanhã, cidadãos que se espera ativos numa sociedade hodierna cada vez mais exigente, cujo progresso dependerá da conjugação da dimensão científica, tecnológica e humanista, indubitavelmente. Uma sociedade onde a educação e a formação dos jovens não contemplam a cultura, a humanização e a arte é uma sociedade “coxa” e pouco evoluída, diria que é uma sociedade “pouco educada”.