O Observador apresentou um texto intitulado “Só juntos conseguiremos sair da crise”, escrito pela comissária Elisa Ferreira. O texto centra-se na ideia de que “é preciso assegurar urgentemente um Fundo de Recuperação capaz de concretizar um programa maciço de investimento e favorecer a convergência de forma a relançar o crescimento da economia e do emprego”.

Elisa Ferreira é uma comissária política da Comissão Europeia. A sua função é defender os interesses da Comissão Europeia e não o dos países, e ainda menos o dos povos da Europa. A Comissão Europeia é uma estrutura burocrática que quer concentrar em si mais poder. O texto de Elisa Ferreira deve ser lido nesta perspectiva.

Há 4 afirmações do texto de Elisa Ferreira que não são verdadeiras mas que são usadas para propagar a mensagem da Comissão Europeia:

1 O choque do Covid-19 não é simétrico, ao contrário do que é apresentado pela Comissão Europeia. Há sectores que sofrem mais do que outros com o choque e há países que dependem mais desses sectores. O Turismo e a respectiva dependência de Portugal são um bom exemplo.

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2 É muito duvidoso que seja necessário um esforço conjunto entre os países para a retoma. Elisa Ferreira não apresenta nenhum argumento para o sustentar, apenas o baseia nas suas convicções federalistas. Mas como resulta do ponto anterior, o choque incide de forma diferente de país para país, e por isso não é simétrico, pelo que o argumento para a recuperação ser liderada pela Comissão Europeia cai por terra.

3 Como o choque incide de forma diferente entre os países, o esforço de recuperação também deve ser diferenciado ou assimétrico. Mas Elisa Ferreira não quer que assim seja porque precisa de justificar o papel da Comissão Europeia, por isso fala no “risco de uma recuperação assimétrica”. O resultado é que um esforço simétrico liderado pela Comissão Europeia iria resultar em políticas económicas erradas para vários países, como aliás já acontece desde o início do Euro com a política monetária única.

Elisa Ferreira não sabe quais são as políticas adequadas à retoma, apenas apresenta generalidades relacionadas com a necessidade de mais investimento e de criação de emprego, através de um Fundo de Recuperação que tem de ser obrigatoriamente gerido pela Comissão Europeia (o que se entende sabendo que ela é comissária).

Designadamente, só fala em dinheiro que é necessário gastar, sem qualquer preocupação sobre se é ou não aplicado de uma forma adequada e quais os efeitos económicos que terá em cada sector. Mas uma retoma liderada em Bruxelas, pelos burocratas da Comissão Europeia desconhecedores da realidade de cada país, é a melhor garantia de que o dinheiro será mal aplicado.

4 Elisa Ferreira ainda aproveita para fazer alguma propaganda aos resultados do Mercado Único na UE. Como de costume, os resultados baseiam-se em estudos feitos pela Comissão Europeia, a mesma entidade que despreza o Princípio da Subsidiariedade e que vê nesta crise uma oportunidade única para concentrar em si mais poder.

Curiosamente, ou talvez não, Elisa Ferreira não apresenta resultados para os efeitos da Moeda Única, especialmente para a economia portuguesa. É pena, porque ajudariam a perceber como parte dos ganhos que Portugal conseguiu com o Mercado Único, mesmo que exagerados pela Comissão Europeia, foram desperdiçados com a Moeda Única.

Por último, apesar de estar a defender os interesses da Comissão Europeia, Elisa Ferreira não perdeu o vício bem português de achar que a solução é atirar dinheiro para cima dos problemas. Este vício está bem representado pelos fundos europeus que a Holanda e a Alemanha nos deram e que desperdiçámos nos últimos 33 anos.

Nunca mais aprendemos.

O texto reflecte apenas a opinião do autor