O vírus toma conta do planeta e há campeonatos para esquecer. Em Portugal, a federação é célere em suspender os campeonatos da formação. É dizer, juniores, juvenis e iniciados. Abre-se um parênteses e aproveita-se para escrever sobre os pouco ou nada falados. Só campeões uma vez na vida, vá.

A pesquisa só encontra quatro clubes, o primeiro de todos é do Barreiro. O Unidos, já extinto. No domingo, 7 Julho 1940, causa surpresa a ausência de um representante de Lisboa e outro do Porto na final. Desta vez, as cidades Barreiro e Coimbra representam os finalistas. A Académica reúne favoritismo por tradição e futebol praticado ao longo do campeonato, se bem que o Unidos afaste sempre os grandes. O último de todos é o Belenenses, na meia-final. Pormenor, o Belenenses é considerado a priori o clube mais bem apetrechado de todos os participantes. Ao eliminar o Belenenses, o Unidos ganha uma moral considerável e entra em campo para ganhar, sem medos. A jogar pela primeira vez num relvado, os barreirenses têm alguma dificuldade de adaptação e disso mesmo dão conta ao treinador Raúl Jorge ao intervalo. E então? A verdade é que eles jogam à bola como senhores e adiantam-se bem cedo no marcador. A Académica responde com ataque sucessivos, todos sem pontaria. Que o digam Bentes e Albino. Este último até marca um golo, invalidado por fora-de-jogo.

Unidos 1-0 Académica
Campo das Salésias, em Lisboa
Árbitro: Abel Ferreira
UNIDOS – Veríssimo; Cunha e Almeida; Calvário, Avelino e Mário; Carreira, Francisco Ferreira, Arnaldo Costa, Baptista e Carlos Duarte
Treinador: Raúl Jorge
ACADÉMICA – Cameirão; Gilberto e Horta; Marcos, Pinto da Rocha e Parente; Bentes, Bronze, Armando, Leite e Albino
Treinador: Albano Paulo
Marcador: 1-0 Carlos Duarte (9′)

Avançamos mais um pouco e estacionamos em 1942. Agora a obra é do Leixões. A final está marcada para domingo, dia 18 Maio. Nas Salésias. Os 22 jogadores entram em campo e estranham a relva bem aparada, escreve o jornalista d’Os Sports. Com o sol bem forte, há momentos de correria e outros de pasmaceira. Entre eles, seis golos. Começa melhor o Carcavelinhos, com o único golo até ao intervalo, por Mário. O Leixões dá a volta, através de Rodrigues e Chaves. Empata Mário, desempata Rodrigues, fixa Pires o 3-3, num canto directo. Sem prolongamento nem penáltis, cria-se a finalíssima no dia seguinte. O público acorre em massa e assiste a uma grande primeira parte do Leixões: 3-0. Rodrigues bisa, de novo. A perder por quatro de diferença, o campeão de Lisboa como que acorda. Severino e Mário encurtam a distância, Barroso trata de marcar o sétimo golo da tarde, de livre directo. Ao contrário do esperado, recusa abraços e felicitações dos companheiros. Limita-se a andar para o meio-campo. Ele que já marcara na meia-final com a Académica (4-0).

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Leixões 5-2 Carcavelinhos
Campo das Salésias, em Lisboa
Árbitro: Henrique Rosa
LEIXÕES – Marques; Grilo e Neto; Nora, Barroso e Queiroz; Nuno, Barbosa, Rodrigues, Zeca e Chaves
Treinador: Dezso Genczi
CARCAVELINHOS – Carvalho Nunes; Carlos e Afonso; Leitão, Godinho e Lopes; Mário, Neves, Severino, Lusitano e Pires
Marcadores: 1-0 Chaves (10′); 2-0 Rodrigues (11′); 3-0 Zeca (27′); 4-0 Rodrigues (51′);4-1 Severino (59′); 4-2 Mário (62′); 5-2 Barroso (76′)

Passam-se uns anos valentes e mudam-se as vontades. Adeus Estado Novo, olá Revolução. Estamos em 1978, ainda cheira a cravo. Em 16 edições, o campeão juvenil nunca saíra do tridente geográfico Lisboa, Porto e Coimbra. De repente, Lamego aparece no mapa futebolístico. Mérito para o Cracks, cujo nome assenta finalmente como uma luva. Craques mesmo. Do alto. O Vitória FC tem tradição nas camadas jovens e vê aqui uma oportunidade de ouro para fazer história, só que a qualidade do Cracks fala mais alto. Na primeira parte, só uma oportunidade de golo, desperdiçada pelo setubalense Bernardino na cara de Moisés. Após o intervalo, um centro de Álvaro (esse mesmo, o futuro internacional AA pelo Benfica, também conhecido por fazer dupla com Chalana na faixa esquerda durante o Euro-84) é cabeceado por Toni com conta, peso e medida. Firmino estica-se e nada feito. O 1-0 é o resultado final e a festa da entrega da taça ao capitão José João é ruidosa, em Tomar. Daí para a frente, mais 41 finais e só mais duas cidades a romper a tradição (Braga em 1981, Guimarães em 2014).

Cracks 1-0 Vitória FC
Estádio 25 de Abril, em Tomar
Árbitro Francisco Rodrigues
CRACKS – Moisés; Martinho, José João, Vasco e Duarte; Toni, Henrique e Álvaro; Mário, Jorge Eduardo e Telmo
Treinador: José Marques
VITÓRIA FC – Firmino; Russo, Gago da Silva, Sobrinho e Carlos; Bernardino, Simões e Paiva; Fernando Cruz, Cabrinha e Milheiro
Treinador: Miguel Gonçalves
Marcador: 1-0 Toni (44′)

Passam-se mais uns anos, até se muda de século. Bem-vindo ao XXI. Em 2002, faz-se história. O Alverca é o 11.º campeão júnior da história do futebol português. Num ano em que a equipa sénior até acaba em último lugar e desce à 2.ª Divisão, embora tenha ganho 1-0 ao futuro campeão Sporting de Bölöni em Alvalade e empatado 0-0 nas Antas com o Porto de Mourinho, os juniores cometem a assinalável proeza de festejar o título. Mérito para o trabalho grandioso de José Lima, que voltaria a ser campeão de juniores em 2008 e 2009. Na primeira fase, o Alverca fixa-se no quarto lugar, atrás de Sporting, Benfica e Académica. Na segunda, dá a volta ao Benfica (13 pontos contra 9). Na terceira, arranca com uma derrota nas Antas por 2-1 e depois ainda empata 2-2 no Bonfim. No dia 15 Junho, a vitória por 2-0 sobre o Porto dá-lhe vantagem no confronto directo. Na jornada seguinte, 3-0 em Braga. Na última, 5-2 ao Vitória FC. Os dois penáltis de Mário Carlos ainda assustam, só que Filipe Falardo completa o hat-trick e dá início às festividades.

Alverca 5-2 Vitória FC
Complexo Desportivo do Alverca, em Alverca
Árbitro: Jacinto Paixão
ALVERCA – Leandro; Padinha, Amoreirinha, João Antunes e Mauro Amorim; Filipe Falardo, Nélson Ramos e Bruno Militão (Cristóvão, 89); Paulo Sereno (Pedro Mileu, 89), Osvaldo e Artur Futre (Tiago Guedes, 69)
Treinador: José Lima
VITÓRIA FC – Paulo Ribeiro; Carlos Neves (Wilson Nobre, 65), Alapilar, Tiago Sousa e Pedro Ramos; João Peixoto (Leite, 65), Mário Pessoa, António Almeida e Bruno Gonçalves; Paulo Vaz (Rodrigues, 46) e Mário Carlos
Treinador: Joaquim Mota
Marcadores: 1-0 Paulo Renato (16′); 2-0 Filipe Falardo (21′); 3-0 Filipe Falardo (54′); 3-1 Mário Carlos (56′, g.p.); 3-2 Mário Carlos (64′, g.p.); 4-2 Paulo Sereno (82′); 5-2 Filipe Falardo (88′)

Chegámos ao fim da linha. Para trás, tantos e tantos campeonatos. Se misturarmos todos os escalões entre juniores, juvenis, iniciados e infantis, o rei é o Porto com 59 títulos. De seguida, Benfica 56 e Sporting 46. Fora do pódio, Boavista 10, Académica 4, Braga 3, Vitória SC 3 e Belenenses 2.