O ser humano não consegue sobreviver mais do que três dias sem água. Aquele chavão que todos aprendemos nas aulas de ciências, certo? Talvez por todos já o sabermos é que, apenas em 2010, a ONU declarou a água como um direito humano. Por acaso, a União Europeia, cujo grande pilar é a proteção dos direitos humanos, ainda não o fez, decerto por falta de tempo.
Ora, nos últimos tempos ouvimos Trump a dizer, de forma enfática, tal qual uma criança que fala do seu brinquedo preferido, que gosta do petróleo. ‘I like oil!’ disse, com o seu gesticular de mãos ao longo do corpo e palmas das mãos viradas para baixo, num claro sinal de PNL – domínio de território.
Contudo, não sei se o Trump está a par, mas o petróleo não será o futuro. Alguém que lhe dê esta informação dramática, por favor. Temos outro recurso, muito mais importante, que deveríamos estar a preservar. Sim, neste momento já perdemos a atenção de Trump. Preservar, é uma palavra que não existe no dicionário da atual casa branca.
Falamos da água.
Sendo a água um essencial à sobrevivência humana e tendo em conta que, uma em cada dez pessoas não tem acesso á mesma, estamos desde logo a falhar. Falha que se vai agravar ainda mais dada a escassez deste recurso, a sua má gestão e os lobbies que estão a surgir como cogumelos.
Agora, quem tem mais água doce no mundo? O Brasil. Aquele país que está nas mãos do Bolsonaro, que disse que o derrame de petróleo no Nordeste não era problema do Brasil, porque o petróleo era de origem Venezuelana. O Brasil é dono de 5,661 bilhões de metros cúbicos, isto é 14 % da reserva mundial de água. Quase que podíamos dizer que o Brasil será a futura “Arábia Saudita”.
Porque estamos a gerir mal este recurso tão essencial à nossa existência? Em primeiro julgamos que é infinito. Por isso damo-nos ao luxo de desperdiçar. Fechou a torneira enquanto ensaboava as mãos? Sim, já se ouvem os discursos que não são os hábitos do quotidiano, são antes as grandes empresas. Ora as grandes empresas, produzem a T-shirt que tem vestida e para isso gastam 2,700 litros de água, mais ou menos a quantidade de água que um ser humano bebe em três anos. Apenas uma T-shirt! Para nota, fica que o par de calças de ganga bebeu 11 mil litros de água. Vestirmo-nos é uma das maiores formas de sorver recursos do planeta.
Também está neste pódio de consumo de água a agricultura. Para regar os campos que nos alimentam gastamos em média 70% da água potável. A agricultura não consome apenas a água tem ainda o dom da contaminação. Os inseticidas, herbicidas, etc contaminam os solos, que por sua vez, contaminam os lençóis freáticos. Na China, 80% da água subterrânea está contaminada.
Sabendo da importância da água desde de 1993 que se declarou o dia 22 de março, o dia mundial da água. O que se faz com este dia em particular? Nada. É mais uma efeméride para as escolas assinalarem.
Sendo nós o famoso planeta azul, como vai escassear a água? Ora, 97,5% da água do mundo é salgada, porém dos 2,5% de água doce do mundo, apenas 0,02% está disponível.
Falar nas alterações climáticas e na proteção ambiental é entrar num campo pantanoso. Se se falar de forma muito agressiva é histeria, por sua vez, falar com termos mais técnicos é erudição. Sim, será sempre a forma a ser analisada e nunca o conteúdo!
No caso da água precisamos mesmo de atentar ao conteúdo. Melhor às letras pequeninas do contrato. Que o digam Paços de Ferreira e Barcelos, que já sentiram na pele os efeitos das concessões feitas a empresas de tratamento de águas. Paços de Ferreira paga a água mais cara do país.
Empresas como a Suez, Sacyr, vão deixando as suas marcas por onde passam. Entre 2000 e 2015 cidades como Paris e Berlim lutaram pela remunicipalização dos serviços de água. Tudo, porque as concessões feitas por períodos de 20/30 anos era um negócio altamente capitalista. Em muitos desses contratos há a garantia que, no caso de não haver o consumo de água expectável, os municípios suportam a perda de lucro. Ou seja, o erário público é chamado a repor o equilíbrio contratual.
Sendo, este um direito humano importa saber quem controla a nossa água. Vários países formam alvos de pressão por parte da Comissão Europeia para privatizarem o setor da água. Irlanda, Grécia, Portugal, Itália, sentiram essa pressão nos memorandos da Troika.
O que se tem vindo a fazer é tratar um direito humano como sendo uma mercadoria. Não há qualquer tipo de transparência nos processos.
Durante décadas assistimos a conflitos violentos e barulhentos sempre com a mesma questão de fundo: o petróleo. No entanto, no silêncio decorrem outras guerras às quais devemos estar atentos. Corremos o risco de ficarmos reféns de um conjunto de interesses instalados. No caso de Paços de Ferreira, para se libertar do contrato da concessionária, teria de pagar uma dívida de milhões ao longo de 528 anos!
Quem já viu isto, formam os novos barões da água. Goldman Sachs e vários bancos de Wall street já estão a comprar água e não será para distribuírem água engarrafada para a Sonae vender na sua cadeia de supermercados. Será mesmo para deter poder sobre um dos recursos mais valiosos do planeta. Vamos deixar o Trump continuar a defender o seu petróleo e vamos abrir bem os olhos sobre os negócios em torno da água. Por falar abrir bem os olhos, de manhã fechou a torneira enquanto escovou os dentes? Ou estava ensonado?