Já sentimos o sol a queimar a pele e muitos já se banham nas águas do oceano.

Cheira a verão.

Ora, se para o litoral, verão é sinonimo de banhos, regra geral, para o interior é sinónimo de sufoco. Os incêndios assombram os verões do interior. A memória não se desvanece, não sucumbe ao tempo.

É a inação nesta matéria que aumenta os receios e hipoteca todo um futuro.

Importa desde logo frisar que não há fronteiras na natureza. Aliás, esta é uma lição que o mundo precisa de assimilar o mais rápido possível. As economias do mundo são impactadas pela biodiversidade. A natureza será mesmo o maior ativo do século XXI. Uma catástrofe ambiental, mesmo que “circunscrita a uma fronteira” impacta muitas “fronteiras”.

Posta esta reflexão preliminar, importa analisar a nossa realidade, no que à floresta diz respeito. Os últimos anos trazem um discurso que alimenta a ideia da prática Humana como a causa principal do flagelo dos incêndios. As temperaturas disparam e lança-se a proibição de frequentar zonas florestais. Num país com 500 guardas-florestais, para uma área florestal que ocupa 3.2 milhões de hectares, o que corresponde a 36% do território nacional. Retiram-se as pessoas e culpabilizam-se as mesmas, sucessivamente, (claro que há ignições dolosas) contudo, este discurso acaba por escamotear uma dura realidade: a má gestão da nossa floresta.

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Um discurso que aponta o dedo, às pessoas e assenta na necessidade de punições (que caem num sistema judicial lento e pouco eficaz) é um discurso bélico. Precisa-se de colocar as pessoas nas florestas, ensiná-las a gostar e a querer cuidar das mesmas. Intimidar e afastar são métodos comprovadamente ineficazes.

Não, as florestas do interior não são como os parques das Cidades, são conceitos muito diferentes. Por isso, é pouco provável que quem decide desconheça esta especificidade. A região centro do país é mais povoada de área florestal e é a mais exposta ao risco. Esta exposição advém, das condições climatéricas e do abandono desta região quer populacional, quer político.

Há uma enorme falta de gestão um empurrar com a barriga perigoso.

Temos as florestas com demasiada matéria acumulada, cheias de biomassa e vazias de ação estrutural. Conclusão: incêndios de gravidade imprevisível, mesmo fora da época.

A ação que se implementa, para “inglês ver,” é linear, uma espécie “somos muito zeladores” todos temos de limpar à volta das casas e na berma da estrada. Esta é uma ação redutora e que já não se adequa. Temos de ver mais além. Temos de ajustar a prática ao impacto das alterações climáticas, às alterações demográficas. Temos de restruturar a nossa floresta. Isso é um trabalho que não se vê nos quatro anos de uma legislatura, nem ganha votos, por isso não move discursos apaixonados. Todavia, temos de ser estruturais na ação, a intensidade atual dos incêndios determina perdas significativas para a biodiversidade o que leva a dificuldades de regeneração dos solos. Solos degradados serão estéreis, o que hipoteca a nossa economia. Todas as economias assentam nos recursos naturais.

Todos os anos perdemos para os incêndios área florestal significativa e todos os anos o lamentamos. Também todos os anos culpamos o verão quente e as primeiras chuvas apagam a discussão e depois já sabe: mete-se o Natal e para o ano logo se vê.