Vamos fazer um jogo?

Concentre-se nos próximos anúncios publicitários. Agora, tome nota das seguintes expressões: sustentabilidade; compromisso com o amanhã; por um planeta mais verde; amigo do planeta; zero emissões e menos poluente. O desafio é tomar nota de quantos anúncios referem estes termos. O vencedor é aquele que mais correspondências achar.

Noutro dia, enquanto jantava, meio ausente de alma e de espírito, tinha a televisão em modo barulho de fundo. Deixou de ser um barulho de fundo indistinto, quando entrou no modo publicidade, o que me retirou da ausência a que estava votada. Num espaço de 20 minutos ouvi de um tudo, até uma gasolineira a prometer que compensa as emissões de CO2! Fiquei intrigada. Como assim compensa!? Compensa a emissão de CO2 de todos os carros que abastecem nos seus postos?

Basicamente todas as marcas que se apresentaram diante de mim naqueles minutos se auto intitulavam como sendo a melhor opção para o planeta. Isto foi transversal. Desde a indústria alimentar, cosmética, têxtil, até aos transportes, todos se comprometiam com chavões bem verdes. Uma marca de automóveis até tem como slogan BORN ELECTRIC. Born, não é um humilde reborn!

É impossível não reparar no forte green marketing das marcas que assenta em greenwashing.

Marcas que fazem greenwashing, estão a apostar em marketing e não no produto. Este não é um termo novo, nasceu em 1980. Já a sua prática tem vindo a intensificar nos últimos anos. Em março de 2020 a União Europeia, criou um plano de ação para que os produtos comercializados sejam efetivamente como o que é publicitado. Isto com o objetivo de promover a transparência.

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Podemos ser duros e falar no greenwashing como uma fraude empresarial. Uma fraude que acontece todos os dias à frente dos nossos olhos.

Atentemos.

Quando o produto é colocado na natureza, rodeados de elementos naturais. Visualmente associamos o produto a algo natural. Claro que a marca não está a mentir, neste caso, só está a fazer uma filmagem bonita. Porém, em publicidade nada é um acaso.

Agora vamos para o campo em que a marca se compromete. Os famosos chavões em letras garrafais como um “feito com matérias reciclados”, muitas vezes a percentagem desses mesmos materiais é de apenas 2%. Ou alega certificações para dar credibilidade ao produto, não referindo que são uma auto certificação!

Ainda em letras garrafais muitas vezes faz advertências que são obrigatórias como se fossem exclusivas do produto. Como por exemplo produtos que dizem não testar em animais. Só um disclaimer: na Europa é proibido testar em animais.

Uma estratégia greenwashing passa ainda pelo uso de informações vagas onde se alega que é sustentável, que compensa emissões que tem produções zero e por aí fora! Não nos dizem é como o fazem e isso estupidifica-nos.

A marca deve ser transparente, divulgar os dados, demonstrar humildade no processo. Não é fácil para uma marca limar todo o processo para ser 100% sustentável de um dia para o outro.  É um processo gradual. Porém, é preciso envolver o consumidor. Mostrar que estão disponíveis para dar pequenos passos e estão disponíveis para que esse crescimento se faça de mãos dadas com o consumidor. Assim o processo será mais sólido.

A nós consumidores importa estar atentos, informar e perguntar.