A cerimónia de abertura oficial dos Jogos Olímpicos dá-me um confronto ao qual não quero escapar.  Antes pelo contrário, vou à luta, correndo com determinação para alcançar Aquele por quem já fui alcançada. E nisto não estou sozinha, mas numa História milenar, feita de encontros e desencontros, como os de Paris, há dias !

Em nome de um suposto  qualquer interesse superior, e ao gosto dos “politicamente corretos” que se vão sucedendo, as pessoas evitam confrontos. Mas eu não vou nessa alienação, e tenho aprendido as razões  do meu viver.

Por isso  abraço estes e outros confrontos com todo o meu Corpo. Aliás é este o modo como abraço tudo o que me acontece . O bom e o menos bom.  Eu sou uma boa boca!

E foi assim que me sentei junto ao Sena, não saindo desse lugar, e no fim fiquei mesmo em frente da torre Eifel !  Só não consegui observar bem  as caras e corpos daqueles que me evocaram um quadro que já conhecia razoavelmente e me remetia  para o nosso querido e matricial Leonardo, o “Festim dos deuses” _ em pleno clima de confronto entre católicos e calvinistas emerge um festim dos Deuses, de van Bijlert, um decalque elaborado  da Última Ceia.

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Última Ceia mesmo – e falo da Representação -, há só uma! Todas a têm presente, refazendo-a a seu modo, que nisso consiste a arte e Da Vinci não pretendeu   ser a última “palavra”.

Venham todas as últimas ceias, desde que sejam Belas, isto é, que irradiem o esplendor da Verdade; Verdade essa que um dia se sentou à mesa com 12 amigos e se deu como Pão – isto é insuportável para quem se considera o centro do mundo, para quem se entende “awake”…, e todos os outros uns tótós.

Muito interesse tem suscitado ao longo da História esta última ceia! Basta referir o Código Da Vinci, e as especulações acerca da identidade do Senhor da Ceia. Que era uma mulher, e que outra mulher estaria com “ela” no centro, e por aí com Marias Madalenas a saírem das cartolas do momento …

Onde esteve na referida Abertura a celebração do desporto como valor civilizacional? Nadal, sim seguramente, mas ficou enterrado no chorrilho das besteiras que se lhe seguiram. Quando chega a cabeça da Antonieta, onde é que já vai o Nadal!

E o que fazem aquelas pessoas sentadas a olhar para mim naquele “template” Última Ceia, momento tão querido ao cristianismo? É evidente que se trata do aproveitamento de uma imagem de simbolismo icónico, chamando assim a atenção de todos. Tal com o ateísmo clássico – que vive “à custa” do Deus da Revelação -, também esta cultura woke precisa  da boleia do Cristianismo para se afirmar. Estamos muito longe da ingenuidade que ignora que com este festim dos deuses se pretende  atacar o coração dos católicos!

Continuando o confronto, ainda a descer o Sena, quero entender este  poder  que homologa tal injúria.  Que poder é este? Que Senhor serve? Sim, porque ninguém escapa a servir alguém – alguém que posso ser eu mesmo, entenda-se.

Poder esse que aparece agora humildezinho a pedir desculpa! Pede desculpa de quê, se afinal era Dionísio que estava a ser representado? Indo a montante, o trio Liberté, egualité, fraternité, ainda está no menu,  e tem um Pai.  Tem, tem…

A ingenuidade tem limites! Mas a liberdade cai na armadilha que a transformou em mera reactividade.  A liberdade   esqueceu- se de si, de quem é, divorciou-de do entendimento. Vestiu-se com as roupas coloridas do sentimento e só lhe sabe “apetecer”.

E o amor – que nos levou ao prato final juntinha à Torre Eifel para ouvir a Celine Dion – ficou a ser também apenas sentimento.   Hoje “comme ci”, amanhã “comme ça”. E “tudo bem”,  “ça va”!

Mas a verdade é que à força do amor – porque “l’important c’est la  Rose” – , Algo escapou à obliteração daqueles  que permitiram que ao longo daquele belo rio passasse a imagem de uma feia e pseudo inclusiva  ceia. Algo que nada pode cancelar, como bem foi demonstrado pela França, por muitos dos seus heróis – tão presentes nesta Abertura, pela ausência notada de figuras notáveis como santa Joana d’Arc.

Esse  algo é uma coisa que Paris sabe muito bem mostrar. “We’ll always have Paris”  ouvimos  no filme Casablanca

E o que é isso que nada pode cancelar? É o grito do coração que quer ser amado, voz que soa fundo em cada um de nós, e muitas vezes apesar de nós.

Uma icónica torre Eifel, tão espetacularmente enquadrada, entre o azul do céu e as formas da terra, entre  luzes e  estrelas a trazer a eterna Piaf, a cantar o grito do amor romântico. O amor romântico “pede”. E  nisso Paris é inultrapassável . Os amantes a ela correm para trocar juras de amor. Mas o que valem essas  “ impotentes” promessas?  Elas valem na medida em que nessa troca acontece um amor maior, que eles vislumbram. Elas valem no que pedem de eternidade. Ouviu-se então a bela voz de Celine: “Nós teremos para nós a eternidade/…/Meu amor, acreditas que nos amamos?/…/ Deus reúne aqueles que se amam”.

Em Paris este desejo fala mais alto, tem um “não sei quê” que já lhe mereceu o baptismo de “capital do amor”. Sempre a teremos sim. Mas do outro lado da moeda está o  Baptismo que sagrou França,  filha predileta da Igreja, um Corpo que encerra em si um Amor incondicional! Et voilá!