A nova versão das Cartas Portuguesas de Sóror Mariana Alcoforado, publicada há dias no Diário de Notícias por Fernanda Câncio e dirigida a José Sócrates, conta uma história que, afinal, é sempre a mesma (mas mais mal escrita): paixão e esperança no início, seguida de incerteza e, por fim, a convicção magoada do abandono.
Trata-se de um relato mais frio que emocionado e que, afinal, nos distrai do essencial.
Porque o essencial do caso Sócrates não se chama Câncio.
Nem está no desconforto do deputado Galamba.
Porque os dois foram enganados porque quiseram ou nem sequer foram enganados.
Ao passo que Portugal e o resto dos portugueses foram levados à força ao patíbulo e continuam a pagar até hoje demasiado caro pelas armadilhas socráticas.
O que nos reconduz inevitavelmente ao beco sem saída da “vergonha” socialista, que só pode ser fingida.
Porque José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa é uma figura maior do Partido Socialista.
Porque foi Secretário-geral do partido de Setembro de 2004 a Julho de 2011 e assumiu o altíssimo cargo de primeiro-ministro de Portugal de 12 de Março de 2005 a 21 de Junho de 2011.
Porque foi no primeiro governo de José Sócrates (o XVII Governo Constitucional), que o actual primeiro – ministro da geringonça, António Costa, foi Ministro de Estado e da Administração Interna (de 12.03.2015 a 17.05.2007).
Porque foi nesse primeiro governo de Sócrates que José António Vieira da Silva foi Ministro do Trabalho (de 12.03.2015 a 26.10.2009), pasta que continua a ocupar actualmente.
Porque foi nesse governo que o actual Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ocupou a pasta dos Assuntos Parlamentares (de 12.03.2015 a 26.10.2009).
Porque foi ainda nesse governo que o actual Ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, foi Secretário de Estado Adjunto e da Administração Local.
E podemos continuar, porque a “coisa” não ficou por aqui.
Sócrates também presidiu ao subsequente XVIII Governo Constitucional (de 26 de Outubro de 2009 a 21 de Junho de 2011, nascido das eleições legislativas de 27 de Setembro de 2009).
Sucede que nesse XVIII Governo Constitucional, o mesmo José António Vieira da Silva, actual ministro do Trabalho, era Ministro da Economia, Inovação e do Desenvolvimento (de 26.10.2010 2009 a 21.06.2011).
E o presente Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ocupava a pasta da Defesa Nacional (de 26.10.2010 2009 a 21.06.2011).
Ora, para os costumes, anota-se que o XVIII Governo Constitucional apresentou a sua demissão em 23.03.2011, devido à maciça rejeição parlamentar do derradeiro e falacioso Programa de Estabilidade e Crescimento apresentado (PEC 4).
O resto já todos sabemos:
A 1 de Abril de 2011 a agência de notação Fitch cortou o rating (a classificação de risco de pagamento da dívida de Portugal) de A- para BBB- (a um nível de ser considerado “lixo”.
A 16 de Maio de 2011 os ministros das Finanças da Zona Euro e da União Europeia aprovaram por unanimidade o resgate financeiro a Portugal, com a concessão de um empréstimo no valor de 78 mil milhões de euros para três anos, que teve como contrapartida a imposição de um duríssimo programa de austeridade que, com o sacrifício de (quase) todos, Portugal conseguiu superar.
Aqui chegados, que dizer, realmente, do Partido Socialista e dos seus principais dirigentes e protagonistas, designadamente, e voltando atrás, à luz do que já se sabe publicamente do processo de corrosão e assalto ao poder que envolve José Sócrates e Manuel Pinho (o seu ex. Ministro da Economia e Inovação no citado XVII Governo Constitucional), o BES, a PT, o tóxico Ricardo Salgado, etc., etc.?
No mínimo, que o PS não serve, não é credível, não merece confiança.
Depois, face a todo o exposto, que a actual maioria parlamentar, apesar de formalmente absoluta, carece absolutamente de legitimação moral e ética.
E chegamos à questão crucial e trágica que colectivamente nos coloca o próximo dia 29 de Maio: pode este PS, com a maioria silenciada, silenciosa e agachada que o apoia, aprovar no parlamento a morte medicamente assistida, vulgo eutanásia?
Podemos entregar descansados as nossas vidas nas mãos destes “cuidadores”?
Os incêndios do último Verão e Outono já responderam.
E dizem terminantemente que NÃO!

Miguel Alvim é advogado

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