785kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

NUNO VEIGA/LUSA

NUNO VEIGA/LUSA

Programa perfeito para reformas

O memorando de entendimento era um guião perfeito para uns. Para outros, era a destruição do Estado social. Fechado o guião, o que há ainda para fazer?

“Um bom acordo”. Foi assim que José Sócrates apresentou o programa de ajustamento negociado com a troika. “Uma oportunidade” para fazer reformas em atraso. Foi deste modo que o atual primeiro-ministro viu o documento, prometendo um Governo reformador do Estado. Passados três anos, Portugal é um novo Estado reformado?

Pedro Passos Coelho acredita que sim. Depois de anunciar uma saída limpa do resgate, o primeiro-ministro traçou as linhas do discurso até às eleições legislativas de 2015: o Governo não foi escolhido “apenas para fechar este resgate, para limpar a confusão, para pôr as coisas como elas devem ser, [mas sim] para mudar Portugal, para reformar Portugal”, disse.

José Silva Lopes e Henrique Medina Carreira acham que não. Por motivos diferentes.

O que mudou?

Na primeira metade do mandato de Passos Coelho, o anúncio das grandes reformas fez-se em áreas como o mercado de arrendamento, a concorrência e a reforma administrativa, com a redução de freguesias e de empresas municipais, sobretudo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Com o programa de ajustamento com meio ano, Vítor Gaspar ia dando voz ao sentimento que se vivia no Governo: “Devemos encarar a crise como uma oportunidade de mudança”.

“Devemos encarar a crise como uma oportunidade de mudança”.

Foi também, por isso, que o programa eleitoral do Governo de coligação se colou às medidas exigidas pelo documento. Mas como era uma “oportunidade”, Passos Coelho cedo anunciou que queria ir além da troika.

Tinha chegado o momento das “reformas estruturais”, pelo menos nos discursos. É assim que tanto Silva Lopes como Medina Carreira encaram o trabalho de Executivo de Passos Coelho ao longo de três anos.

“Reformas? Foram feitas algumas, mas não todas. Melhorou, mas não o suficiente”, diz ao Observador Silva Lopes, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal. Apesar das alterações em todo o setor da Justiça (reforma do código penal, de processo penal, código civil e ainda o novo mapa judiciário, entre outras mexidas), e da alteração da Lei da Concorrência, que foram bandeiras de Passos Coelho ao longo do mandato, Silva Lopes duvida dos resultados práticos das alterações: “Na Justiça não vimos nada, na concorrência também não”.

Curiosamente, apesar de concordarem que o Estado não foi “reformado” como devia ser, Silva Lopes e Medina Carreira discordam na leitura por áreas. “Em algumas áreas, fizeram algumas reformas, não diria que foi só por causa da troika. Na Justiça mexeu-se bastante, nas leis laborais também”, diz ao Observador Medina Carreira.

O diagnóstico geral é, no entanto, o mesmo: “Não vejo uma verdadeira reforma. Tem-se diminuido a despesa, mas não se pode chamar uma reforma”, diz Medina Carreira.

No argumentário político, cortar despesa não era a mesma coisa que reformar. Cortar era responder à emergência, reformar implicaria mudanças mais estruturais. Seria tratar do importante, depois de resolvido o urgente.

Mas muitas dessas “reformas”, sobretudo as que mexiam com a função pública, ficaram pelo caminho. O Tribunal Constitucional impediu algumas das aclamadas mudanças estruturais do setor público: redução do salário dos funcionários públicos; o chamado sistema de requalificação da função pública, que incluia a possibilidade de despedimento de funcionários ao fim de um tempo na mobilidade especial; a convergência dos sistemas público e privado de pensões, para os pensionistas que já recebem, que resultaria num corte das pensões de 10%, e ainda algumas alterações ao código do trabalho, como as alterações à regras de despedimento por justa causa.

O travão constitucional deu um argumento novo ao Governo: se o Tribunal guardião da Constituição não aceita mexidas em direitos adquiridos que representem cortes na despesa, aumentem-se impostos. E aumentaram. Desde que o Governo está em funções houve mexidas no IVA (a mais recente foi uma subida de 0,25 pontos percentuais, para 23,25%, na taxa normal para responder a mais um chumbo), no IRS (o “enorme aumento de impostos” de Vítor Gaspar), mas também em outros impostos, como o IRC, onde a reforma foi feita com o apoio do PS.

Passados três anos, quem acreditava que este era o programa ideal para reformar Portugal tem um diagnóstico pessimista: “Foi uma oportunidade perdida”, diz ao Observador João César das Neves. E nas explicações do economista aparecem, sobretudo, os interesses instalados que querem manter o status quo: “Não é a primeira vez, já houve outras e, para mim, nunca mais vai ser feito. Temos de deixar de falar dessas coisas que são mitos antigos. Vamos ter de viver com o que temos, porque quem controla – e são muitos interesses e muito variados, praticamente toda a população, não quer mudar e se não quer mudar não há nada a fazer”, diz César das Neves.

Reformas feitas pelo Governo, pelas palavras de Passos Coelho

  1. Plano de Redução e Melhoria da Administração Central (PREMAC)
  2. Comissão de recrutamento e selecção para a administração pública (CRESAP)
  3. Reforma administrativa
  4. Novo Regime Jurídico do Sector Empresarial Local
  5. A nova Lei de Organização do Sistema Judiciário
  6. O novo regime de organização e funcionamento dos tribunais judiciais
  7. A nova Lei da Arbitragem Voluntária
  8. Código das Insolvências e da Recuperação das Empresas
  9. A Reforma da Ação Executiva
  10. Alteração dos Códigos de Processo Civil, Penal e de Processo Penal
  11. Conceito Estratégico de Defesa Nacional
  12. Lei-Quadro dos reguladores
  13. Tribunais da Concorrência e da Propriedade Intelectual
  14. Lei da concorrência
  15. Novo Regime do Arrendamento Urbano

Veja aqui o documento de balanço das reformas ao fim de 20 meses de Governo e de dois anos.

Veja aqui os outros mitos:

A troika iria destruir o Estado social

Portugal ia sair do euro

Governo não chegava até ao fim da legislatura

Dinheiro da troika não era suficiente

Contestação social seria violenta

 

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos