O Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, condenou hoje as críticas da Igreja católica venezuelana à polémica versão ‘chavista’ do Pai Nosso e acusou os bispos de “inquisidores”.
“Senhores, minoria de bispos que não representam o povo católico, que saíram como a inquisição a perseguir a jovem mulher, trabalhadora, porque leu um poema. De vocês o que brota é ódio a Chávez”, disse.
Durante uma alocução televisiva, o chefe de Estado disse ainda que os bispos “ficaram loucos” ao ver que a oração “expressa o amor sincero a Hugo Chávez”.
“Não puderam derrotar Chávez enquanto vivo e agora querem persegui-lo no amor espiritual que o povo lhes tem, isso é a verdade”, frisou.
O chefe de Estado sublinhou ainda que na Venezuela “há liberdade de criação” e comparou o “poema” com obras de escritores que fizeram versões de orações católicas para “cantar aos heróis da pátria”, como o guatemalteco Miguel Ángel Asturias e o chileno Pablo Neruda.
“Senhores da inquisição, exijo respeito pelo espírito criador e já basta de tanta perseguição contra Chávez”, enfatizou.
Na quinta-feira, a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) condenou a iniciativa um grupo de militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela de transformar a oração do Pai Nosso numa versão política, a louvar o falecido “líder do socialismo do século XXI”, Hugo Chávez (1954-2013).
Num comunicado, a CEV disse que “o Pai Nosso é a oração por excelência dos cristãos do mundo inteiro, provém dos mesmos lábios de Nosso Senhor Jesus Cristo” e por isso “é intocável”.
A CEV defendeu ainda que “os símbolos, orações e elementos religiosos católicos devem respeitar-se” e que quem teve a ideia de fazer uma “versão nova e indevida do Pai Nosso” cometeu o pecado de idolatria, “por atribuir a uma pessoa humana qualidades ou ações próprias de Deus”.
Entretanto, Estrella Uribe, a autora da “oração do delegado” – também conhecida como “Chávez nosso” ou “Pai Nosso de Chávez” -, explicou aos jornalistas que a prece surgiu de muitas reflexões, de espiritualidade, e que em nenhum momento se procurou ofender a Igreja Católica nem os cristãos.
No texto da oração, lida durante um ato do Partido Socialista Unido da Venezuela lê-se: “Chavez nosso que estás no céu/ na terra, no mar, em nós e nos delegados/santificado seja o teu nome/ venha a nós o teu legado, para levá-lo ao povos daqui e de lá (internacionais)”.
A oração prossegue com “dai-nos hoje a tua luz/para que nos guie todos os dias/ e não nos deixes cair na tentação do capitalismo/ mas livra-nos da maldade, da oligarquia/ como do delito do contrabando/ porque de nós é a Pátria, a paz e a vida/ pelos séculos dos séculos. Amém, Viva Chávez”.
Em 2013, na Semana Santa, após o falecimento do líder da revolução bolivariana, várias orações foram distribuídas na Venezuela, entre elas a “oração do comandante” e o “credo chavista”.
A devoção levou ainda a que, em Caracas, no populoso bairro 23 de Enero, nas proximidades do Quartel da Montanha, onde estão depositados os restos mortais do líder socialista, um grupo de populares tenha criado uma pequena capela de madeira a que deu o nome de Capela Santo Hugo Chávez.