Sikander Sattar, o presidente da KPMG, a auditora das contas do primeiro semestre do BES que deitaram o banco abaixo, diz ter informado a tempo o vice-governador do Banco de Portugal do buraco encontrado nesses resultados – na prática, mais de duas semanas antes do colapso do banco. Admitindo, porém, que Pedro Duarte Neves, também responsável pela supervisão prudencial no banco central, não tenha informado o próprio governador.

Numa entrevista ao Expresso, Sikander Sattar garante ter reunido no dia 16 de julho, nas instalações do Banco de Portugal, com Pedro Duarte Neves e o diretor do departamento de supervisão, dando “a indicação” de que tinha sido identificada a situação de recompra das obrigações com perdas para o BES”, um problema novo que acrescentou perdas adicional de mais de mil milhões de euros. Mais até, explica que no dia 22 isso mesmo foi reportado num email dirigido ao mesmo diretor de supervisão (que reporta diretamente a Duarte Neves), dando já conta dos detalhes do problema.

Quanto a Carlos Costa, e à pergunta sobre se este terá tido conhecimento, a resposta do presidente da KPMG é vaga: “Não tenho conhecimento da forma como a informação é comunicada dentro do Banco de Portugal”. Sattar admite que Carlos Costa não tenha tido conhecimento destes dados, por exemplo, quando entre a reunião e o email disse, no Parlamento, não ter conhecimento de nenhum problema adicional nas contas do banco, garantindo que as verbas postas de parte para fazer face a novas perdas chegaria para resolver os problemas. “O senhor governador diz que só tomou conhecimento no dia 25 e eu só posso acreditar na sua palavra”.

Problema adicional, acrescenta ainda o responsável pela auditora: a CMVM estava a par de tudo desde o início e “houve contactos entre a CMVM e o Banco de Portugal antes do dia 16”. Isso e mais: “Houve um trabalho de estreita colaboração entre a KPMG e as duas entidades reguladoras, o Banco de Portugal e a CMVM, desde novembro de 2013 até 31 de julho de 2014.

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As declarações do auditor voltam a pôr na linha de fogo Pedro Duarte Neves, que ontem o Observador dizia poder vir a estar em causa na remodelação de pastas dentro do Banco de Portugal que Carlos Costa está a preparar para as próximas semanas. A nomeação de dois novos administradores pelo Governo para a instituição vai levar a essa mudança de pastas, que será decidida na primeira reunião de Carlos Costa após a posse dos novos membros.

A perder as competências de supervisão prudencial, Pedro Duarte Neves seria a primeira vítima da crise no BES dentro dos supervisores, que têm estado sob forte escrutínio por não terem evitado a falência do grupo e a queda do BES.