“O Governo quis atirar tudo ao charco, por incompetência. E agora arrependeu-se. Não se podia pôr um banco daqueles nesta situação”. A acusação é de Mário Soares e vem com um aviso dirigido ao Governo. Numa reportagem da RTP, que foi para o ar no Telejornal deste sábado, o fundador do PS – principal responsável pelo regresso da família Espírito Santo a Portugal e pela privatização do seu banco, diz que o sarilho causado pela alegada intromissão no BES e no Grupo Espírito Santo (a quem Passos negou uma ajuda, como noticiou em junho o Observador) vai ter seguimento: “Quando ele falar, e vai falar, as coisas vão ficar de outra maneira. Ao princípio era tudo banditismo, mas agora os portugueses já perceberam que não é assim”, alega Soares.

A reportagem tem mais depoimentos, todos eles de pessoas que contactaram diretamente com Salgado nos seus vinte anos de liderança do BES. Muitos eles defendendo Salgado ou, por alternativa, criticando Governo ou o Banco de Portugal pela condução da situação do banco e pela sua divisão em dois. Caso de Miguel Veiga, fundador do PSD, que acusa Carlos Costa de ter feito declarações “irresponsáveis” na noite em que anunciou o fim do BES tal como existia, “sem existir um julgamento”. Nessa noite Carlos Costa falou de responsabilidade criminal da anterior gestão, que levou à sua inviabilidade financeira.

Na mesma reportagem, a RTP falou com Michael de Mello, primo de Ricardo Salgado, que se queixa que as divergências na família e a guerra da sucessão de Salgado tenham saído do núcleo familiar. Michael Espírito Santo Silva de Mello já tinha dado uma entrevista à Sábado no início de setembro, onde dizia não acreditar que o nome da família venha a ser recuperado, acrescentando não estar zangado com o ex-presidente do BES: “Ricardo Salgado é mais prejudicado do que eu. Eu comprei as ações este ano, fui oportunista, às vezes as coisas correm mal. Não o culpabilizo.”

A mesma linha é seguida por Eduardo Catroga, ex-conselheiro de Passos Coelho durante a campanha das últimas legislativas, que diz ter sido a divisão na família que levou ao colapso do grupo e do banco. E que também acredita que é “excessivo” dizer que a culpa da queda de todo o grupo é apenas de Ricardo Salgado.

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N.R. Esta notícia foi atualizada após a reportagem ter ido para o ar com mais declarações de Mário Soares.