A presidente da Associação dos Cegos e Ambliopes de Portugal, alertou este domingo, que os problemas que normalmente afetam a sociedade têm especial incidência em quem tem uma deficiência, lembrando que perto de 45% das pessoas invisuais estão desempregadas.
O alerta surge por ocasião dos 25 anos da Associação dos Cegos e Ambliopes de Portugal (ACAPO), que se assinalam a 20 de outubro, com a presidente da associação a aproveitar para chamar a atenção para as questões que mais afetam quem tem deficiência visual.
“Falamos, claro, das carências ao nível do emprego, das lacunas ao nível do apoio educacional, seja ele na escolaridade regular como depois na escolaridade superior, as questões de acessibilidade na via pública e aos meios de informação”, destacou a dirigente.
Apontou ainda um estudo feito recentemente pela ACAPO junto dos seus associados e utentes, que revelou que a taxa de desemprego entre estas pessoas atingirá os 45%, quando está nos 14% no total da população. Para a presidente da ACAPO, estes “são números muito significativos”, que mostram como esta população sente de uma forma “muito mais intensa” as dificuldades gerais.
Por outro lado, disse que um dos problemas que, neste momento, merece a dedicação da associação tem que ver com os custos acrescidos que advêm da deficiência e que, na sua opinião, não têm sido devidamente contemplados, nomeadamente ao nível dos transportes.
“Não nos podemos esquecer que as pessoas com deficiência visual não dispõem de transporte próprio, deslocam-se permanentemente em transporte público e, onde ele não existe, contratando transporte privado”, alertou.
Acrescentou que as pessoas com deficiência visual têm uma série de necessidades ao nível desses apoios, mas “não recebem qualquer tipo de apoio por parte do Estado”. “Tendo nós uma população tão ampla, vivendo de pensões e de subsídios, [devemos] efetivamente pugnar por uma maior justiça desses valores, que são em muitas situações absolutamente precários e não permitem às pessoas terem níveis de vida com o mínimo de dignidade”, denunciou.
Ana Sofia Antunes alertou igualmente para o facto de esta ser uma população fortemente discriminada, dando como exemplo não só as dificuldades no acesso ao emprego, mas também uma simples deslocação, em que uma pessoa cega tem de conseguir ultrapassar uma série de barreiras, principalmente arquitetónicas.
“Também no acesso à sociedade da informação porque, apesar de haver legislação sobre essa matéria, ainda existe um grande número de sites, mesmo de serviços públicos, que não cumprem os níveis de acessibilidade a que estão obrigados”, lembrou.
Para assinalar os 25 anos da ACAPO, disse que a associação pretende prolongar as comemorações durante um ano, arrancando com um grande almoço comemorativo no sábado, dia 29. Das comemorações fazem ainda parte conferências sobre vários temas,tal como o lançamento de livros em braille.
Marcada está também a constituição da União de Cegos de Língua Portuguesa (UCLP), que vai congregar todas as associações de cegos dos países com língua oficial portuguesa.
A ACAPO é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), que nasceu da fusão da Associação de Cegos Louis Braille, com a Liga de Cegos João de Deus e a Associação de Cegos do Norte de Portugal, tendo atualmente cerca de 3.500 associados.
Dados do Instituto Nacional de Estatística, relativos ao Censos 2011, apontam para a existência de cerca de 160 mil pessoas com deficiência visual em Portugal.